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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O juízo final - último capítulo

E quando Ele apareceu, de súbito, todos calaram-se. O clima alegre e festivo de antes deu lugar ao respeito de uns, temor de outros e admiração de todos. Admiravam aquela figura com rosto piedoso e austero ao mesmo tempo. Seus cabelos e barbas brancas eram como algodões doces, tão brancos e sedosos. Estava vestido apenas com uma túnica. Naquele salão não fazia nem calor nem frio. A temperatura era firme em 22 graus Celsius. O silêncio era fúnebre. Deus resolveu romper esse silêncio:

- Meus filhos e minhas filhas, chegou a hora de esclarecer vossas dúvidas mais angustiantes. Eu vou responder a cada um de vós somente na hora em que estiver julgando-os. Lembrem-se: não existe mentira pra mim. Depois que eu fizer todas as perguntas, vós podereis fazer as perguntas que quiserdes. Vou responder já às perguntas que mais lhes atormentaram durante a vossa existência. Quem sois? Padre Antonio Vieira já vos respondestes e agora Eu só confirmo: sois pó, homem! Nada além de pó! Para fazê-los eu usei barro, que é pó molhado e hoje vocês não passam de pó! De onde viestes e para onde vão? Todos vieram do Jardim do Éden e todos voltarão para lá. Uns voltarão agora, outros passarão uns tempos com Lúcifer, pagando seus pecados, refletindo sobre suas vidas. O tempo que ficareis lá, Eu ainda vou decidir.
Mas, como vocês já diziam, nada dura para sempre e no fim todos voltarão ao Jardim do Éden, onde vos estarei esperando de braços abertos.
Como vocês já devem ter visto, esse computador aqui na minha mesa é onde está cadastrada a ficha de todos vocês. É o super computador divino, com 5 milhões de tera bytes de memória, o mais avançado processador que eu já me permiti desenvolver: 10 milhões Gh de velocidade. Lá atrás está um telão, onde, quando eu precisar, mostrarei trechos de suas vidas. Tenho tudo gravado. É claro que não precisarão assistir ao julgamento de todos. Lá fora tem um espaço enorme para vocês brincarem, conversarem, fazerem o que quiserem enquanto esperam a vez de serem julgados, com tanto que não me atrapalhem.
Conforme a sentença for sendo dada, cada um de vocês deverão encaminhar-se para o elevador da esquerda, cujo ascensorista é Belzebu ou para o elevador da direita, cujo ascensorista é São Pedro. Chegando ao Inferno, Lúcifer estará vos esperando e lá quem manda é ele e vocês deverão obedecê-lo. No Jardim do Éden, a Virgem Maria é quem os recepcionará. Muito bem, podemos começar!

Nesse momento, José da Silva levanta a mão.

- Pois não, Zezinho? - indaga Deus, benevolente.

- Posso ir ao banheiro? - pede José, hiperapertado.

- Anjo Rafael, acompanhe-o até o banheiro. - ordena Deus.

- Mas por que eu? Manda o Thiago. - revolta-se Rafael.

- Vai logo, deixa de folga, senão eu corto sua asa! - brinca Deus.

E Rafael, que estava interessado em não perder nenhuma parte do julgamento, sai reclamando:

- Que droga! Tudo eu! Tudo eu!

- Agora vamos começar! - proclama Deus.

Mas Aristóteles levanta a mão.
O salão inteiro começa a chiar. Deus pergunta:

- Você também quer ir ao banheiro, Ari?

- Não, Senhor, eu só quero saber por que o Senhor resolveu acabar com nossa raça?

- Simples. Estava tudo escrito. Eu escrevi a história mais fantástica dos séculos dos séculos. Criei vocês porque eu queria ver a minha história acontecendo na prática e não mudei uma vírgula de tudo o que escrevera. Então, uma hora Eu tinha que terminar a história. Não podia ficar a eternidade toda escrevendo. Aí eu acabei com vocês.
Alguém tem mais alguma pergunta de interesse geral?

Outra vez um silêncio fúnebre grassou pelo salão.

- Bom, se não há mais nada que impeça o início desse julgamento, Eu declaro iniciado o Juízo Final!

O julgamento demorou muito tempo. Não se sabe quanto ao certo, pois na eternidade não existe tempo cronológico. Mas imaginem o que é julgar a vida de uma pessoa. E de bilhões? Dependendo da idade da pessoa, o julgamento demorava mais ou menos, evidentemente.
E o pessoal lá fora, jogava futebol, baralho, dominó, cantava no videokê, dançava, conversava, enfim, aproveitava a festa.
De tempos em tempos o anjo Rafael ia chamar um dos que estavam lá fora. Quando isso acontecia, a choradeira era geral. Todos se abraçavam e desejavam boa sorte ao que ia e prometiam ver-se novamente, seja no Paraíso ou no Inferno.
A festa ia ficando cada vez mais vazia. O salão onde ficou a turma que preferiu ficar assistindo ao julgamento, também esvaziava-se pouco a pouco.
Depois de muito trabalho e cansaço, Deus conseguiu terminar o julgamento.

- Ufa! Acabou! Gabriel, por favor, prepare um relatório pra Mim de quantas pessoas foram para o Paraíso e quantas foram para o Inferno, quem são essas pessoas e a sentença que eu dei para os que foram para o Inferno. Agora vou descansar, pois estou só o pó.

- Pois é... o Senhor está só o pó, na gíria. Os seus filhos estão literalmente "só o pó". HAHAHAHA.

- Esse Gabriel é um patusco! HAHAHAHAHA

Gabriel estava fazendo o relatório no super computador divino, um monte de papel espalhado na mesa, o trabalho seria árduo.
De repente, quem aparece de mãos dadas, sorriso malicioso no rosto, com cara de quem acabou de comer o fruto proibido?
Eles mesmos: Adão e Eva.
Adão, malandro, maroto, com jeito de quem não está nem aí, pergunta:

- Ué! Cadê todo mundo? Não tinha a maior galera aqui?!

E o anjo Gabriel:

- É... parece que vai começar tudo de novo.

Um comentário:

  1. Lamento profundamente que eu tenha por tanto tempo usado esse dom maravilhoso (escrever) que Deus me deu para zombar Dele. Eu não tinha nenhum conhecimento bíblico e com grande arrogância eu falava o que EU PENSAVA que seria, COMO EU ACHAVA que seria. Onde está o sangue de Jesus nessa história toda? Se o homem é pó e ao pó torna, porque todos ainda estão vivos nessa história? Quanta incoerência!! Morto não fala, morto não sente. Ou se está morto ou se está vivo.
    Foi difícil voltar 10 anos no tempo. Confesso que doeu muito transcrever essa história e saber quanto eu maltratava o meu Pai. A maior pergunta de todos os tempos não é nenhuma daquelas três que estão no conto! É essa:

    - Por que, Pai? Por que o SENHOR me amou tanto?

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