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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Escorpianos

Todo mundo sabe um pouco de Astrologia e, mesmo nos dias de hoje, em que a ciência e a razão prevalecem, muitos ainda sabem, pelo menos, uma palavra que define cada signo. Por exemplo, Touro é “paciência”, Libra é “equilíbrio”, Leão é “orgulho” e assim por diante.
Quando eu era leigo, achava que o Escorpião era o pior signo do Zodíaco. Muitos também acham isso. A palavra que define o Escorpião é “filho da meretriz” (me pediram para não usar palavrões aqui).
Para o leigo, Escorpião é vingativo, possessivo, traiçoeiro e ciumento. É verdade. Porém, quando se aprofunda um pouco mais no assunto, descobre-se que o escorpiano também é profundo, intenso, analítico, investigador e adora desvendar um mistério.
Traiçoeiro mesmo é o conhecimento. Parece que quanto mais temos, menos temos. Às vezes, a gente estuda, estuda, estuda e volta ao ponto zero. Foi mais ou menos isso o que aconteceu no último final de semana, quando descobri que Lula, Maradona, Edir Macedo e Bill Gates são escorpianos. O que todos esses homens têm em comum? A canalhice e a capacidade de manipulação das massas.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Paraty: para mim, para nós.

Se eu não estivesse lá, eu diria que aquele lugar não existe. Mesmo estando lá, precisei me beliscar algumas vezes para ter certeza de que não era sonho, tamanha beleza que se mostrou às minhas vistas! Se o Rio de Janeiro é o paraíso, Paraty é a porta de entrada!
A beleza já começa a aparecer no caminho, quando o meio de transporte – ônibus, no meu caso – passa pelas duas cidades que têm as mais belas praias do litoral paulista: Ubatuba e Caraguatatuba.
Confesso que não gosto de fazer o que todo mundo faz, ir onde todo mundo vai e, principalmente quando percebo que algo está na moda, prefiro esperar “a poeira abaixar”. Demorei anos para querer ler O CÓDIGO DA VINCI e nunca tive interesse em conhecer Paraty.
Conheço muita gente que já foi a Paraty e provavelmente por isso nunca tive interesse em ir àquela cidade paradisíaca (preferia Rio Branco). No entanto, surgiu a oportunidade e abracei-a.
Logo que cheguei, fiz o que todos os meus amigos que para lá foram, disseram para fazer: o passeio de barco.
Era uma incrível unanimidade! Todos que me deram dicas de Paraty diziam a mesma coisa: não perca o passeio de barco, não perca o passeio de barco, não perca o passeio de barco.
Eu já fizera outros passeios de barco na minha vida e não conseguia imaginar o que poderia haver de tão especial naquele em específico. O jeito era pagar para ver. Paguei. Trinta reais para ser exato. Acabou saindo barato. Claro que qualquer coisa que se consumisse dentro do barco custava o olho da cara. Por isso, a dica que nenhum amigo me deu, mas que eu dou, é: não consumam no barco. Um saquinho pequeno de Ruffles chega a custar R$ 7,00!
Mas, afinal, o que há de tão especial nesse passeio de barco? É difícil explicar. É preciso que uma série de fatores se conjuguem dentro e fora da pessoa para que sintamos o prazer proporcionado por esse passeio. É preciso se encantar com as pequenas coisas, como por exemplo, com a cor magnífica da água. É preciso gostar de nadar, pois temos essa oportunidade a cada parada. É preciso que Deus colabore, deixando o sol sair e queimar nossas peles. Aquele sol, aquele céu... tudo colaborou para que o passeio fosse considerado especial.
De barco, visitamos três praias diferentes (Jurumirim, Vermelha e Lula) e uma ilha particular, chamada Ilha dos Pescadores. Entramos no barco às 10h da manhã e saímos às 16h40min. Vale à pena! Dura o dia todo.
A cada parada, podia-se pular do barco e mergulhar no mar; dali, era só nadar rumo à praia. Na segunda parada, pulei com uma lata de cerveja na mão. Óbvio que o líquido esquentou. BURRO!!! Na volta, da praia para o barco, também podíamos voltar nadando. Para quem não sabe nadar, existe um bote, onde a tripulação te leva e te traz. No dia do passeio, fazia um sol para cada um e tive a oportunidade de me surpreender com as águas tépidas de Paraty. Até então, só tinha sentido águas mornas em Natal.
Na terceira praia em que paramos (a da Lula), fiquei brincando de jogar disco com dois garotos. Foi a primeira vez que brinquei disso e creio que isso somado à beleza das paisagens, à transparência da água, que tem uma cor diferente a cada trecho do passeio, são as pequenas coisas que encantam e que me referi acima. As outras foram os beijos que ganhei na primeira praia em que paramos (a do Jurumirim) e o calor deliciosamente insuportável que fazia.


Na volta, pude apreciar os traços da arquitetura colonial da cidade tombada pelo Patrimônio Histórico. Eu, particularmente, adoro essas construções antigas.



Como não almoçamos no barco, aproveitamos também para almojantar uma deliciosa macarronada ao molho de frutos do mar. Só de lembrar, dá água na boca!
A noite de Paraty lembra um pouco a da Lapa carioca: tem de tudo! Todos os tipos de bares, restaurantes, lojas, lugares com música ao vivo, sem música ao vivo e sem música nenhuma. Vi um lugar onde a música parou e começou um show de mágica. Na rua, um travesti chamava o povo para vê-lo cantando Noel Rosa. Eu queria ter visto, mas minha amiga não deixou. Fomos para o lugar onde tomei a melhor caipirinha da minha vida: BODEGA DO POETA. É impressionante como sabem fazer caipirinha! Realmente muito boa. Nem entrei na bodega para ver se tinha poesia na parede ou se era limpa nem nada. Quando vi o copo de caipirinha que o gringo estava tomando, falei para a minha amiga: “Quero uma igual”.


Sentamos à mesa que estava do lado de fora mesmo e lá ficamos curtindo o som, olhando o movimento da rua, batendo papo e enchendo a cara. Bom demais! Ou, nas palavras dela: “Tem coisa melhor, Rafa?” Tem, claro que tem. Mas depois... depois...
No entanto, como a vida é AGORA e só o que vale é CADA MOMENTO, então não, não tem coisa melhor. Naquele momento, era a melhor coisa que podíamos fazer.
No domingo de manhã, comecei a conversar com uma “japonesa” que no dia anterior percebi que falava inglês. Descobri que, na verdade, ela era de Hong Kong e, como ela ia para o mesmo lugar que nós, convidei-a para vir junto. Havia outros dois paulistas conversando com ela antes de mim no café-da-manhã e acabaram indo também. Todos para Trindade. Tomamos o ônibus intermunicipal na rodoviária e 40 minutos depois chegávamos à cidade com praias deliciosas. O caminho para lá, também é um colírio para os olhos e um filtro para a alma.
No ônibus, havia um grupo de excursão com, pelo menos 10 gringos. Induzidos pelo guia turístico deles, nós cinco também descemos no lugar errado. Mas de nós cinco, quatro eram brasileiros: espertos, ágeis, rápidos, logo percebemos que não era o local correto e voltamos correndo para o ônibus. Os gringos ficaram lá, torrando sob o sol fluminense. Primeiro, demos muitas risadas; depois, até que bateu uma peninha... Sorte da Érika (moça de Hong Kong) que estava com brasileiros!
Chegando à Praia do Meio (já em Trindade), Tharcísio – um dos paulistas – comprou umas Brahmas para nós termos combustível para fazer uma trilha de dificuldade média e 400 metros de extensão até a Praia do Cachadaço. Essa praia é bem mais tranqüila e deserta do que a anterior, exatamente devido à dificuldade para se chegar. O mar tem muitas ondas, mas não é nada perigoso. Estava tão gostoso que perdi a noção de quanto tempo fiquei no mar.
Em certo momento, vi Érika com sua prancha indo muito longe. Eu já estava bem no fundo, pois estava além de onde as ondas quebram – por isso digo que aquele mar não é perigoso. Mesmo assim fiquei preocupado quando vi a colega de Hong Kong indo tão longe, tão fundo e pensei: “Caramba! Que mulher corajosa!” Em seguida, entrou na água o outro paulista, Jorge (que, segundo a minha amiga era apaixonado por Tharcísio. Confesso que nada percebi, mas em se tratando de sentimentos, é melhor confiar na intuição feminina). Bem, o tal Jorge marcou seu nome nessa história com essa sacada:

- Ei, avisa a Érika que ela esqueceu as coisas dela na praia!

Olhei pra ele com aquela cara de “o que você está falando?”

- Pelo jeito, ela está voltando para Hong Kong – ironizou Jorge.

Foram só gargalhadas e até esqueci a preocupação.

Pouco depois, comecei a conversar com um carioca muito gente boa. Ele disse que prefere Paraty, pois “as praias do Rio não dá para freqüentar de final de semana”. Paraty é tranqüila demais. “No Rio, você não pode largar suas coisas na areia por cinco minutos igual nós deixamos ali. Os malandros pegam”. Tudo isso falando com aquele sotaque carioca, cadenciado e carregado de malemolência. Super legal!
A dona da sorveteria onde fomos depois é outra carioca (pelo menos, no sotaque) muito gente boa. Antes de pegarmos os sorvetes, ela nos deixou à vontade para experimentarmos todos os sabores que quiséssemos. Lá provei sorvetes inéditos, como os de blueberry, erva cidreira e capim santo. Ela foi tão atenciosa que até pegou as tais blueberries e nos deu para provar para que nós conhecêssemos. É uma bolinha preta. Parece uma jabuticaba, só que bem menor. E o gosto também não tem nada a ver com jabuticaba. A dona da sorveteria nos disse ainda, sobre o blueberry, que os estadunidenses comem para melhorar a visão. Como eu não gosto de cenoura e gostei do blueberry, achei um ótimo substituto.
Por essas e por já ter passado um final de semana no Rio de Janeiro (capital), não posso concordar quando dizem que carioca é folgado, que carioca é isso, carioca é aquilo. O Rio de Janeiro é o paraíso brasileiro (e até rima!) e o carioca é o povo que faz com que nos sintamos no sofá das nossas próprias casas.
Saí do mar, pois minhas mãos já estavam enrugadas e comprei umas latas de Skol para encher o tanque, porque era hora de enfrentar mais uma trilha, só que maior (com o dobro do tamanho da primeira ou 800 metros) e mais difícil (com mais subidas), tanto que os meus glúteos e os meus ísquios tibiais (músculos da parte anterior da coxa) ficaram doendo por uma semana depois. O fim dessa trilha foi dar nas piscinas naturais, que estavam lotadas. Lotadas inclusive de gente falando inglês e espanhol.
Durante a trilha, houve revezamento entre os cinco, de modo que sempre tinha uma pessoa diferente na frente, puxando a fila. Eu dizia que o primeiro da fila era o guia e foi muito engraçado quando Érika, que nem brasileira era, assumiu a ponta e começou a nos guiar. Pior ainda: justo quando ela estava nos guiando, nós chegamos! Minha amiga, que não fala uma palavra em inglês, perguntou se faltava muito. A simpática moça de Hong Kong já tinha entrado na brincadeira e estava se divertindo também. Apontou as piscinas e disse em português uma palavra que aprendera: AQUI. Ficamos lá até o fim do dia. Fazia muito sol e eu, que já estava queimado do passeio de barco do sábado, não saía da água. Quando Érika cansou de ver peixes, usei os óculos dela. Foi pura diversão!


Só o que me irritou em Paraty foi o fato de minha amiga entrar em todas as lojas, tanto no sábado quanto no domingo, mexer em todas as roupas, experimentar duas ou três peças e sair sem levar nada. Um ritual inútil e profundamente angustiante. Se a loja não tivesse ar condicionado, eu nem entrava. Numa dessas vezes que fiquei do lado de fora tirando fotos, ouvindo música e olhando o movimento, a mulher demorou tanto que cheguei a pensar que a tivesse perdido. Entrei na loja, procurando. Não achei. Putz, perdi mesmo! Encaminhei-me até o provador e perguntei se havia uma morena lá. É claro que havia! Que pergunta! Morena é o que mais tem no Brasil. A moça da loja quis saber o nome da morena, mas antes que eu dissesse, minha amiga respondeu. Minha Nossa Senhora, que demora!
Está certo que a loja era grande e ela deve ter virado a loja do avesso... agora adivinhem se ela comprou uma única peça? Mas tudo bem... enche o saco, mas não briguemos por causa disso, né? Crio minhas estratégias e consigo suportar. Mas é por isso que prefiro viajar sozinho. Vou aonde quero e fico o tempo que quero.

Vocês já devem ter percebido que eu falei bastante de estrangeiros até agora. E eu juro que tentei evitar. Foi a primeira cidade que visitei, onde vi mais estrangeiros do que brasileiros. Dentre os brasileiros, os paulistas são maioria absoluta. Dentre os estrangeiros, os australianos vencem, segundo a dona do barco que fez o passeio comigo. Entretanto, não pude confirmar essa informação.
A princípio, era apenas impressão minha a quantidade de estrangeiros ser maior do que a de brasileiros. Mas, na segunda-feira, conhecemos a paulista Lilian do Couto, que confirmou: “Na terça-feira passada, quando eu cheguei, o hostel estava dominado por estrangeiros. De brasileiro, tinha só um casal e eu”. Como ela não fala inglês, não conseguiu fazer amizade com ninguém. Graças a isso, ela teve a “sorte” de conhecer um nativo que a levou para passear em todos os pontos turísticos da cidade. Há males que vem para o bem.
Chegaram inclusive a ir a Trindade, mas não foram às piscinas naturais, pois o amigo dela percebeu que ela ficou esgotada após a primeira trilha e preferiu preservar a vida dela, evitando a segunda trilha. Caso contrário, ela morreria, nas palavras da própria Lilian. De cansaço, é claro. Sedentarismo é fogo, hein! E olha só quem está falando.
Na segunda-feira, não fizemos nenhum passeio longo, pois o nosso ônibus sairia às 16h. Decidimos voltar a Trindade e ficar apenas na Praia do Meio. Era essa a intenção. Mas a Lilian foi conosco e novamente deu sorte. Pois conheceu as pessoas certas. Minha amiga não é sedentária como eu, mas não curte trilhas. Ficou falando das piscinas naturais para Lilian e acabamos levando a moça lá. Mas como somos sedentários, pegamos um atalho para evitar a fadiga. Pagamos R$ 7,50 a um barqueiro que nos levou até lá e depois, pelo mesmo valor, nos trouxe de volta. Nessa hora, mais uma vez, o carioca nos surpreendeu: desligou o motor do barco e ficou apontando tartarugas no fundo do mar o tempo que foi necessário, até que nós três tivéssemos visto as tartarugas. Informou-nos que aquelas tartarugas estavam na lista de animais ameaçados de extinção do IBAMA, mas graças àquela região, provavelmente as tartarugas sairiam da lista ainda em 2011. Realmente havia muitas!
Na volta de Trindade, naquela segunda-feira, último dia em Paraty, uma constatação: as mulheres são todas iguais em qualquer lugar do mundo. Antes de entrarmos na van que nos trouxe de volta, havia um casal gringo na nossa frente e a moça já estava falando com o namorado. Nós entramos na van e andamos por mais de meia hora, até que o casal pediu para descer. A moça simplesmente não parou de falar um segundo sequer. Parecia uma metralhadora de palavras. Lembrei daquela piada que o cara disse que não falava com a mulher há dois anos. O amigo pergunta se eles brigaram e ele responde que não, é que ela não dá tempo nem para ele responder.
A gringa parecia boa na oratória, pois o cara parecia interessado no “causo”. Mas por mais interessante que seja, não tem quem aguente uma história longa demais. Por isso, se você chegou até aqui, muito obrigado e parabéns. Você é um herói ou uma heroína.
Mas, amigos, tenho uma boa notícia: se a mulher fala demais com você, é porque ela gosta de você. Tudo bem, tudo bem... parece que já ouço caras dizendo “legal, mas será que ela não poderia gostar só um pouquinho menos?” Bom... isso é entre você e ela.
Para fechar com chave de ouro e repetindo mais um horrível chavão num texto cheio deles, choveu bem na hora que saímos do hostel. Mas não foi uma chuvinha qualquer, não. Foi um baita de um toró. Chegamos encharcados à rodoviária e nossas malas idem. O ônibus atrasou em uma hora sua partida e minha amiga se estressou, porque tinha um encontro com o marido quando chegasse em São Paulo. Por isso não mencionei o nome dela em nenhum momento. Eu, depois desse super final de semana, não tinha o direito de me estressar. Fiquei lendo O SEGREDO, emprestado de uma outra amiga do banco e sentindo o Universo conspirando a meu favor. Até a chuva veio na hora certa. A hora de ir embora.