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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Proposta de casamento - parte 2

O tempo passou, ele viajou, ela ficou. Antes, porém, prometeram passar o último mês o máximo de tempo possível juntos. Promessa cumprida. Ela conheceu a família dele – foi ao aniversário do irmão dele – ele conheceu a irmã dela e falou com a “sogra” pelo telefone. Era preciso agradecer àquela senhora por ter colocado aquela mulher no mundo. Ele a levou (a mulher, não a sogra) a shoppings que ela nunca tinha ido, pizzaria, acompanhou-a ao médico duas vezes e, antes mesmo de casar, criou uma barriguinha saliente por comer tantas gostosuras na casa dela.


Mas ele viajou e, de repente, eles, que se vangloriavam por não estar apaixonados, passaram a sentir muita falta um do outro. A paixão é mesmo uma droga. Ela só nasce em terrenos inférteis. Quanto mais infértil, melhor para ela. A maldita vive de dificuldades! E ele estava com medo de fazer a fatídica pergunta. Afinal, ela ainda lhe devia uma resposta. E a distância complicava tudo.

- E aí, pensou? - perguntou ele, por telefone 
- Ai, amor, minha cabeça está a mil. Eu penso tanta coisa. Por que você foi embora?
- Porque aí não é o meu lugar. Nem o seu. Para que você pudesse vir para cá. Porque você jamais sairia da sua cidade para ir aonde você se sente bem, se não houvesse um motivo maior. Você nunca viria “só” porque você se sente bem. Então... aqui estou! Seu motivo maior. 
- Tássia, né?
- Tássia o quê?
- Está se achando!
- Engraçadinha... Agora que quebramos o gelo e sorrimos, diga-me: em que pensa? O que lhe atormenta o coração?
- Eu não queria ficar tão longe da minha mãe. Imagine as dificuldades de criar filhos longe dos avós...
- Muito mais difícil é criá-los perto!
- Por quê?
- Porque os avós palpitam demais, interferem demais, mimam demais!
- Ah, mas é super normal os avós mimarem os netos.
- Não é porque é normal que é certo. Só ouço pais reclamarem das interferências, dizem que os avós destroem tudo o que eles constroem, etc. Não, não. Quanto mais longe, melhor.
- Nossa! Você é um monstro de frieza! Credo!
- Venha para cá ver como estou frio. Parece que estou morto. Se demorar muito, vai começar a decomposição.
- Por que você faz brincadeira com tudo?
- Porque eu estou feliz!
- E eu, com saudade.
- Eu também. O que não me impede de estar feliz.

Ela deu um sorrisinho e o chamou de “bobo”. Mas depois lembrou-se da conversa:

- Você não gostava de ser mimado pelos seus avós?
- Claro que sim! Principalmente porque, por eu ser o primeiro neto, sempre fui o preferido.
- E por que negar isso a seus filhos?
- Uai! Porque eu sempre penso no que é melhor pra MIM!!!
- Você é um monstro mesmo! Um poço de egoísmo! Por que não fala sério?
- Quer falar sério? Bem... um dia sua mãe vai morrer, seu pai também, seus irmãos vão se casar ou vão seguir a vida deles... e você? Querida, chegamos a este mundo sozinhos e vamos sair dele sozinhos. Cada um tem a sua vida e temos que viver a nossa da melhor maneira possível, desapegados de coisas, pessoas e lugares. Chega um momento em que temos que caminhar com nossas próprias pernas. E a Vida não perdoa. Se você não caminhar com suas próprias pernas agora, terá que caminhar depois que seus pais morrerem. Se quando chegar a hora, você estiver caminhando com as pernas de outra pessoa – seu marido, por exemplo – não se preocupe, pois a Vida dará um jeito de fazê-la aprender. Não tem jeito. A gente aprende pelo amor e/ou pela dor. Melhor que seja pelo amor. Porque, quando é pela dor, muitas vezes dói bem mais do que achamos que podemos agüentar.
- Você acha que eu não caminho com as minhas próprias pernas?
- Não, não acho. Este exemplo foi mais pensando em mim do que em você. Afinal, sou um poço de egoísmo. Mas acho que dá para extrair alguma coisa útil do que falei no fim das contas.
- Eu amo a sua sinceridade!
- Só isso?
- Não, né? Amo você todinho.
- Toddynho? Por isso, então, que sou frio. Toddynho só é bom se estiver gelado.
- Amo você INTEIRINHO. Está bom assim?
- Está melhor. Bom mesmo, só quando você me disser “sim”.
- Acho, então, que precisará de uma PROPOSTA DE CASAMENTO – PARTE 3, hein! 
- Por mim, tudo bem. Adoro escrever.

Dessa vez, não teve beijo nem abraço na despedida. Desligaram o telefone, suspiraram com o aparelho à altura do peito e choraram. MALDITA PAXÃO!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Moradia no Paraíso


Hoje estou muito feliz! Choveu um pouco de manhã, mas depois parou. Quando parou, resolvi sair despretensiosamente rumo à praia. Passei por várias pousadas no caminho. Entrei em todas. Perguntei, conheci e encontrei o lugar onde vou morar, sabe Deus quanto tempo. Como dizia minha chefe, “nada é definitivo, mas é temporariamente definitivo”.
Estou muito feliz porque lá tem tudo: café-da-manhã, ar condicionado, ventilador, TV a cabo, rede sem fio para acessar a internet, chuveiro elétrico – embora o calor seja tão grande que a gente só tome banho gelado – limpeza de quarto diária, bebedouro, frigobar, companhia – quando eu estiver me sentindo sozinho, é só sair do quarto e confraternizar com o pessoal da pousada – sem falar na comodidade de não ter que me preocupar com ABSOLUTAMENTE nada. Qualquer coisa que quebrar ou que não estiver funcionando, basta chamar a recepção.
Na vida, temos que analisar tudo em termos de custo x benefício. Acho que o custo que terei morando lá é muito baixo se comparado a todos esses benefícios. Estou muito feliz, porque andei na praia, conversei com o mar e tenho cada vez mais certeza de que fiz a coisa certa e estou no lugar certo. Tudo que era bom em São Paulo, continua bom aqui; e o que não era bom lá, melhorou aqui.
Por exemplo, o meu horário de trabalho. Era uma das melhores coisas que eu tinha em São Paulo. Pude mantê-lo aqui. Outra coisa boa que pude manter é a internet. Pensei que fosse ficar desconectado do mundo por um tempo, mas não. Não fiquei um dia sequer sem internet. O que melhorou? A qualidade de vida e, conseqüentemente, a minha saúde. Vou trabalhar todos os dia a pé. E volto a pé também. É meia hora de caminhada para ir e mais meia hora para voltar. Ou seja, tecnicamente eu não sou mais sedentário. Isso combinado a dois banhos gelados por dia, faz muito bem à minha circulação. Tão bem que, mesmo sem usar as meias de média compressão há duas semanas, minhas pernas doem menos do que doíam em São Paulo. E olha que aqui é mais quente, hein! E, como é mais quente, as veias tendem a se dilatarem mais.
Além disso, aqui eu tenho TV a cabo, o que eu não tinha em São Paulo; o custo de vida é bem mais baixo e tem mais feriados do que no Sudeste. Sem falar no sol e calor de todo dia e a possibilidade de levantar cedo e correr na praia, o que eu ainda não fiz e dificilmente farei, pois não é do meu perfil. Mas que a possibilidade existe, existe.
Levantar cedo e correr não é do meu perfil, mas principalmente levantar cedo. Levantar cedo e trabalhar, levantar cedo e assistir TV – a não ser que seja deitado no sofá – levantar cedo e estudar... é uma luta! Mas correr, até que já corri na última quarta-feira, desde a minha “casa” até o supermercado e na quinta-feira, na orla de Iracema. À noite, claro. Após voltar do trabalho, troquei o sapato pelo tênis, a camisa pela camiseta e a calça pelo shorts e fui correr. No início, bem pouquinho, mas quem sabe, daqui uns tempos, não chego em São Paulo correndo.
E tem mais: gosto muito de estudar sobre finanças pessoais (vocês já devem ter percebido pelos e-mails que eu mando). Saindo de São Paulo, centro financeiro do país, onde está a Bolsa de Valores, sede da maioria das corretoras e conseqüentemente onde se encontram os melhores cursos da área, imaginei que minhas oportunidades nessa área rareariam. Porém, ao contrário do que eu pensei, neste pouquíssimo tempo que estou morando em Fortaleza, já encontrei duas corretoras de valores famosas. E onde tem corretora, tem curso desta área. Ainda não verifiquei, mas já estou feliz por vislumbrar a possibilidade.
Falei com a minha amiga de Curitiba essa semana pelo MSN e ela exclamou: “Cara, você está no paraíso!” Pois é... tive que concordar com ela. Morar em Fortaleza é bom demais! Estou vivendo um sonho. Só quem já viveu um sonho sabe do que eu estou falando.
Eu sei que todo sonho acaba quando a gente acorda, então o jeito é não parar de sonhar. Já estou planejando os próximos 28 anos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Despedida de São Paulo

Eu acho que todo mundo gostaria de estar presente no próprio velório. Para saber quem choraria, quem sorriria e quem apareceria apenas para cumprir o protocolo. De certa forma, pude sentir, quem sabe, uns 10% dessa emoção quando me despedi de São Paulo. As coisas que eu mais ouvi e li foram que eu era especial e faria falta.
A minha superior imediata e a porteira do meu prédio chegaram a ter os olhos marejados, mas se seguraram. A única que não se segurou e chorou copiosamente – nem poderia deixar de ser – foi a minha mãe. Eu não vi a minha namorada chorar, porém ela chegou a minha casa com os olhos vermelhos e não quis admitir que chorou por minha causa.
Meu irmão foi outro que não queria dar o braço a torcer. Dizia que estava comemorando a minha partida e eu dava risada, pois sabia que era só da boca pra fora. Na hora H, no último instante, ele me deu um abraço forte, fez um carinho na minha cabeça e me disse algumas belas palavras.
Achei louvável os meus primos – gente que cresceu comigo, foram meus confidentes algumas vezes, brincaram e brigaram muitas vezes comigo, quando criança – terem ido ao aeroporto despedir-se de mim. A verdade é que sempre estivemos presentes nos principais momentos das vidas uns dos outros.
Após o check-in, chegada a hora do embarque, parecia que eu estava no corredor da morte, caminhando rumo à sala de embarque. Minha mãe segurando meu braço de um lado e meu irmão, do outro. É... despedida é sempre ruim mesmo, mas, uma vez no avião, era concentrar-se na nova vida que se iniciaria. A viagem de avião foi o ritual de transição.
Minha cunhada também foi se despedir. Uma “aborrecente” de 15 anos que aproveitou 15 dias de suas férias passeando comigo em São Paulo. Minha outra cunhada – que, na verdade, virou ex – não foi, porque o meu irmão surtou no último fim de semana antes da minha partida e terminou o namoro.
Notei algumas coisas muito interessantes no meu “velório”: meus amigos mais próximos não se despediram. Não tiveram coragem. Disseram que a gente se vê, que a gente se fala, que não perderíamos o contato e que me visitariam. Esses, com certeza, estariam chorando no meu velório.
Há também aqueles que sei que chorariam pela força e ternura que me abraçaram na despedida. Além disso, disseram que “não existe encontro sem o Greghi” e, por isso, no próximo, deverei estar presente por videoconferência.
Engraçado mesmo foi no trabalho – e aqui, é óbvio que não estou falando daqueles que tornaram-se amigos. Houve aqueles poucos que me deram a maior força e disseram que eu estava fazendo a coisa certa, que agora era a hora, “vai em frente”, etc. Houve aqueles que ficaram tristes por perder um bom colega de trabalho (não estou querendo me gabar, não, gente. Eu vi a tristeza em seus olhos). Houve também quem misturasse a tristeza no olhar com a felicidade de um sorriso sincero. A felicidade era obviamente por saberem que eu estava indo para um lugar que todo mundo imaginava ser melhor. E agora que estou aqui, posso lhes afirmar: é melhor mesmo.
Há aqueles também que não se importam com a minha existência e me desejaram um protocolar “boa sorte e seja feliz”, por educação. Natural...
Mas a imensa maioria demonstrou espanto e admiração pela minha “coragem”.

- Você conhece Fortaleza?
- Não.
- Conhece alguém lá?
- Não.
- Tem família lá?
- Não.
- E como é que você vai?
- De avião.
- E a sua família?
- Eles ficam. Não se adaptariam ao clima de lá.

E as pessoas acharam que eu fui corajoso por causa disso. Mas eu não acho, porque eu vim me preparando para isso há muito tempo. Quando aconteceu, foi muito natural. Na verdade, na minha mente, já tinha acontecido.
Graças a Deus, eu tenho a “sorte” de cruzar com as melhores pessoas no meu caminho. Há uma arquiteta onde eu trabalhava que é uma pessoa MA-RA-VI-LHO-SA! Cheia de vida, cheia de luz, cheia de graça! Denise é seu nome. Ela lembrou que tem umas primas aqui em Fortaleza e me passou os contatos. Pelo menos, já tenho um contato por aqui. Georgeana, freqüentadora da Igreja da Graça, fomos a um super, hiper, mega rodízio de sushi há dois domingos. Para vocês terem uma idéia, os sushis ficam sobre um trenzinho que fica dando voltas numa mesa enorme, passando por você a cada cinco minutos aproximadamente. Além disso, os garçons passam servindo as comidas quentes, como hot rolls, camarões ao alho e óleo e à milanesa, caranguejos, espetinhos de carne, lingüiça, salmão e queijo, porção de fritas e macaxeira. É um rodízio completo.
É claro também que não me esquecerei de Júlio César, um cabra de Fortaleza que me ajudou muito enquanto eu estive em São Paulo. Credenciei a empresa dele para prestar serviços para o Banco do Brasil e ele foi muito solícito quando soube que eu me mudaria para cá, disponibilizando-se a me ajudar em qualquer coisa que eu necessitasse.
Lamento não ter conseguido me despedir de todo mundo. E olha que foram tantas despedidas que fiquei me sentindo o Romário ou o Ronaldo, quando se despediram do futebol. O primeiro virou deputado federal; o segundo, empresário de sucesso. Se eu tiver uma vida pós-despedida tão boa quanto a deles... se não, tendo uma vida tão boa quanto a minha, já está bom também.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Balanço da primeira semana


Acabou-se a primeira semana do Jovem Dragão em Fortaleza. Foi uma boa semana. Ele já lavou suas cuecas várias vezes. Já sentiu azia por ter exagerado no café-da-manhã, mas não tomou remédio, porque acha que remédio, só em último caso. Já sentiu saudades do irmão e da “namorada”, mas só porque ficou olhando fotos e recordando os bordões de seu irmão: “truta”, “prego”, “toma um autógrafo”.
Conheceu pessoas incríveis, como Daniela, a mineira de Belo Horizonte que pedala todas as terças, quintas, sábados e domingos; ela gosta tanto de pedalar que trouxe a bicicleta dela para as férias. Pedalou de dia. E pedalou à noite. Ah, trouxe também a filha, Rebeca, 16 anos. Como todas as mineiras que conheço, ambas (mãe e filha) são muito simpáticas. Há dois dias, o Jovem Dragão conheceu duas outras pessoas fantásticas: o paulista Duda e a catarinense Sheila. O paulista mora onde o Jovem Dragão se criou, o bairro da Zona Leste, Vila Esperança, próximo ao metrô Vila Matilde e, ao aparecer o nome da rua Heloísa Camargo na conversa, o Jovem Dragão lembrou-se de seu amigo corinthiano fanático: Émerson. Sim, o paulista Duda sabe quem é o Émerson, acho que a rua inteira sabe. Pois é... que mundo pequeno, não?
A catarinense Sheila é uma mulher peculiar: a primeira que conheci que não carrega bolsa. Sexta-feira fomos à praia e confiei na bolsa dela para guardar o meu protetor solar, que carreguei na mão e deixei-o largado em cima da mesa enquanto estivemos na praia, porque ela não anda com bolsa. Mas eu não fui o único traído por pensar que conheço as mulheres. Ainda bem. O paulista Duda também caiu nesse conto da carochinha e confiou na bolsa de Sheila para guardar protetor solar, óculos e sei lá mais o quê. E também teve que ficar com tudo nas mãos. Ela também foi a primeira pessoa que conheci que fuma, mas não bebe. Ela quebrou um axioma que eu tinha criado: NEM TODO MUNDO QUE BEBE, FUMA; MAS TODO MUNDO QUE FUMA, BEBE. Posso afirmar que essa mulher peculiar fumou para caramba, mas ficou só na aguinha de coco. Questionei-a sobre esse traço e ela respondeu-me que bebe, sim; mas precisa estar com muita vontade. Não deixa de ser interessante. Partiu para São Paulo a fim de encontrar um “amor de verão”. Aliás, eu disse a ela que aqui tem muito paulista. É verdade! Nem peguei sotaque cearense ainda, pois estou convivendo com muitos paulistas. Quando eu fiz essa observação a ela, ganhei como resposta: “vocês estão em todos os lugares!” E já que ela não completou, completo eu: parecem praga.
O staff aqui do hostel é muito bom! Destaque para as duas meninas da cozinha e da limpeza, Josy e Edilene, muito simpáticas e prestativas. Logo cedo já estão sorrindo e animadas. Também com esse sol e essa temperatura em pleno mês de agosto, não dá pra ficar desanimado. Hoje ganhei duas broncas de Marli, a simpática dona do hostel. Até para dar bronca, ela é simpática. A primeira foi porque eu estava fazendo pão na chapa de manhã. Não pode. Se quiser, pede para Edilene ou Josy. Hóspede só pode usar a cozinha depois das 10h. A segunda foi porque eu sou muito espaçoso. Após ocupar o maleiro destinado a mim, ocupei também o contíguo. Não pode. Chegou outro hóspede e o maleiro estava ocupado. Aí ficou chato, né? Ela tem razão, claro, e chegou toda delicada, falando do perigo de deixar objetos de valor, como o notebook, fora do maleiro trancado. Era exatamente este objeto que estava no outro maleiro.
Mas tem um hóspede aqui que merece um destaque por ser uma figura estranha. No primeiro dia dele, comentei com um colega: “Cara novo no hostel?”, o colega respondeu que sim e eu cometi a minha primeira gafe aqui no CE. Comentei:
- Pelo jeito, não é brasileiro, pois não entendeu o que eu falei...
Vocês estão me entendendo? Ele estava arrumando as coisas dele na mochila e arrumando as coisas dele, continuou. O colega do hostel respondeu-me:
- É brasileiro, sim; de Campinas.
O cara é assunto aqui no hostel. Todo mundo diz que ele é um bicho do mato, estranho, esquisito, não fala com ninguém e só responde se você falar alto. Não, ele não é surdo. É tímido mesmo. Sei disso, porque assisti ao jogo Guarani X São Caetano pela Série B do Campeonato Brasileiro com ele e ele sempre respondia aos meus comentários. Tirando o fato de não cumprimentar todas as pessoas sempre, não é mal-educado. Tentamos chamá-lo para ir à praia, almoçar, jantar... não adianta. Ele não “se mistura à essa gentalha”. Acorda de manhã cedo, toma o café separado e sai não se sabe para onde e é melhor nem saber. Na hora da janta, prepara a própria janta e também come em separado. Fica assistindo televisão até certa hora e se recolhe. Abre a boca raríssimas vezes, mas parece ser boa gente. Deve ser muito sábio, pois quem ouve e observa mais do que fala, geralmente é sábio.
Nesta semana, procurei rádios daqui e não achei, pois era hora da Voz do Brasil. Hoje (sábado), sim, achei algumas rádios boas na minha caminhada para o almoço. Há a rádio 100, com o slogan TUDO BEM, TUDO CEM! Fui curtindo o programa SENSASAMBA, o que me fez gravar essa rádio na memória do celular.
Quarta-feira, fui conhecer a agência onde vou trabalhar e os colegas com quem vou me relacionar. A agência é muito bonita, apesar de terrivelmente mal localizada. É no centro, sim. Mas é no centro também que os mendigos trabalham. É uma quantidade enorme, dois ou três por quadra. E, misturado aos mendigos, há sempre bandidos. Vou ter que sair correndo da agência, quando escurecer. Pelo menos, é perto. Creio que dê para ir a pé. Voltar, não. Os colegas são “esquisitos”. A primeira impressão não foi boa...
Aqui no hostel já virei o “Rafa”. Lá na agência, já disse que o pessoal em São Paulo me chamava de “Greghi”, ou seja, é assim que quero ser chamado.
Em 9 dias, perdi o café-da-manhã 4 vezes, descobri uma pastelaria ótima, um rodízio de pizza, que é o único lugar fora do shopping Aldeota que aceita VISA-VALE REFEIÇÃO e isso é horrível! Outra coisa horrível é o trânsito. Congestionado nos horários de pico, louco em qualquer horário. No meu segundo final de semana por aqui, presenciei 3 acidentes. E olha que o domingo nem acabou, hein! Dois com motos e uma traseira de Uno amassada. Isso sem contar os vários “quases” que já vi. Faltam semáforos por aqui e isso talvez ajudasse. A buzina é a imperatriz do trânsito! Em todas as ruas, todas as esquinas, toda hora tem uma buzina sendo disparada. Nos horários de pico, porém, chega a ser irritante!
Fui às duas praias urbanas mais famosas de Fortaleza: Iracema e Futuro. A última é disparada melhor do que a primeira. Posso dizer que é a melhor praia, em termos de estrutura, a que já fui. Há um quiosque que está mais para um shopping do que para um quiosque de praia. Tem área com piscina, mesas dentro e fora da praia, lojas de roupa, chuveiros e atendimento rápido, ao contrário do que dizem. Pelo menos, com relação à velocidade do atendimento, não tive problemas por aqui. Meu maior problema com atendimento nesta cidade é a aceitação de VISA-VALE REFEIÇÃO. Oh, dificuldade!
Já conheci também o Mercado e o Teatro Municipal de Fortaleza. O mercado, também chamado de Mercado Central, lembra, de longe, assim... no branco do olho... o Shopping 25. Isso devido a variedade de objetos à disposição: de comidas a artesanatos, passando por roupas e calçados. Só não tem eletrônicos.
O Teatro Municipal José de Alencar também é lindíssimo! Inaugurado em 17 de junho de 1910, apresenta arquitetura eclética, sala de espetáculo em estilo art nouveau, auditório do foyer com 120 lugares (primeiro bloco), sala de espetáculos propriamente dita, com 800 lugares (segundo bloco), espaço cênico a céu aberto, onde antes funcionava um hospital municipal e o prédio, que hoje é anexo ao teatro, mas que antes, era o IML. Só faltava o cemitério no lugar da praça em frente para completar o trio da morte: morre no Hospital, tem o corpo despachado no IML e enterra no cemitério.
No auditório, há vários camarotes e cada camarote é nomeado com o título de um livro de José de Alencar. No teto, há uma pintura à Capela Sistina – exagero meu – e do lado esquerdo, consta a data de nascimento do maior autor do Romantismo brasileiro e, do lado direito, a data de sua morte. À frente, a pintura que representa a “Apoteose” do romancista sendo coroado por Lucíola que, segundo informações do guia responsável pelo theatre-tour, foi o livro preferido de Alencar.

sábado, 6 de agosto de 2011

Desabafo

Essa semana, recebi um e-mail revoltado de um amigo que está usando pseudônimo e, em solidariedade a ele, cidadão honesto, trabalhador e que paga seus impostos em dia, resolvi dar-lhe voz no blog. Vejam a lamentável situação pela qual o rapaz passou:

“Amigos,

Há menos de um mês atrás, meu cunhado, ao parar para almoçar num desses restaurantes na estrada, ao voltar para seu carro, teve o dissabor de encontrar o mesmo com o vidro da porta traseira esquerda estourada e a coluna da mesma porta entortada, muito provavelmente com o auxílio de um pé-de-cabra, a julgar pela aparência dos danos. Como ele se lembrou de ter visto um policial militar (reconheceu a profissão pela farda...) dentro do restaurante enquanto almoçava, voltou até o estabelecimento e pediu ajuda ao mesmo. O policial então disse ao meu cunhado que pelo fato da ocorrência se dar em uma rodovia federal, ele estava fora de sua jurisdição e portanto não poderia fazer nada. Quando eu soube disso, fiquei chateado por imaginar o desgosto dele, um cara honesto, que conseguiu o que tem hoje através do seu trabalho ao longo de vários anos...

Pois bem, no último domingo à tarde, eu parei meu carro ao lado da igreja e fui participar da minha missa semanal. Lá pela segunda leitura, um barulho chato de alarme me tirou a concentração pois eu não conseguia mais ouvir o texto sagrado. Pensei, "tá parecendo o alarme do meu carro... " Mas como eu só ouvi esse alarme uma vez, há um ano e meio atrás, quando a concessionária me entregou o veículo e como, no fundo no fundo, o ser humano é otimista e sempre acha que as coisas ruins não vão acontecer com ele, eu disse pra mim mesmo: "Ah! não deve ser não. Deve ser algum descuidado que esqueceu de desarmar o alarme antes de abrir o carro..." Nisso o alarme parou. Ouvi mais um parágrafo da Epístola e a porra do alarme chato recomeça. Pensei: "Vou lá ver... " – e o alarme parou de novo, dessa vez bem mais rápido – "...Ah! Mas o que é que eu vou poder fazer se for mesmo o meu carro? Quando a missa acabar eu descubro".
Quando a missa acabou eu já tinha até esquecido do alarme. Mas aí eu descobri que tinham mesmo tentado levar o carro. Encontrei um buraco na lataria da porta, junto da fechadura. Fiquei feliz por um lado porque o maldito, filho-da-puta, desgraçado, morfético do ladrão não conseguiu levar o carro e isso por si só já foi um pequeno castigo pra essa criatura amaldiçoada, afinal ele não levou o meu e por causa do alarde todo, não deve ter conseguido levar o de mais ninguém. Pelo menos assim espero... Por outro lado, fiquei levemente emputecido, afinal de contas, eu não roubo, não mato, não como a mulher do próximo, não exerço cargo político em nenhum dos três poderes, enfim não faço nada de ilegal ou imoral que pudesse justificar tal sorte.
Entrei no carro e saí correndo, afinal vai que o ladrão resolveu me esperar pra levar o carro na marra, né? Fui direto para um posto da PM perto de casa (e longe do local da ocorrência). Chegando lá, disse ao soldado que gostaria de fazer um boletim de ocorrência de tentativa de furto. Ele me orientou a procurar uma delegacia da Polícia Civil, pois a militar só fazia B.O. de acidente de trânsito sem vítima. Eu disse que tudo bem, procuraria a delegacia então, mas questionei se não havia nenhum outro procedimento a fazer, afinal eu queria registrar a queixa no sentido de ajudar a polícia a identificar onde existem bandidos atuando pra ela poder saber onde reforçar o policiamento. Sabem qual foi a resposta? "A GENTE NÃO PODE FAZER NADA!"
Meus amigos, ouvi isso e todo o meu repertório de palavrões e impropérios me veio à mente mas, claro que fiquei mudo. Olhei em cima da mesa, atrás do soldado, e vi um fuzil jazendo em cima dela. Lembrei-me de quando era aluno da FATEC, numa manifestação que os alunos fizeram apoiando a greve dos professores (por melhores salários) e aproveitando pra pedir para que o governo do Estado melhorasse as condições da faculdade (a gente pleiteava na época coisas supérfluas como livros novos pra biblioteca, computadores pros laboratórios de informática, papel higiênico e sabonete pros banheiros...) e essa mesma "polícia" acabou carinhosamente com a manifestação disparando balas de borracha, bombas de efeito moral e de gás lacrimogênio contra os estudantes, terminando com as tradicionais massagens capilares com cacetetes. Aí sim eu fiquei totalmente emputecido!!!
A que conclusão que eu posso chegar a não ser a seguinte: qualquer trabalhador honesto, que consiga comprar aquilo que precisa com o dinheiro ganho honestamente, com o suor do rosto, não pode sequer reivindicar um salário melhor, que vem a PM e senta-lhe a porrada! Estudante, então, não tem nem o direito de ser acometido de uma caganeira na faculdade... E os que não são, correm o risco de ser infectados com os Enterococcus faecalis dos que são... Vai reclamar? Toma-lhe porrada! Aí esse povo precisa da polícia, forte, armada, valente, pra defender-lhe daqueles que não estão nem aí pras leis, e o que eles encontram? "A gente não pode fazer nada!" 
Peço desculpas por tomar o tempo de vocês, mas eu precisava desabafar isso e, mais ainda, lançar duas perguntas pra nós refletirmos:

1) Qual o papel do poder público na manutenção da segurança do cidadão honesto, que trabalha e paga seus impostos?

2) E, uma vez que não temos o Estado para nos defender, o que podemos fazer para cuidarmos de nossa própria segurança?

E quando eu digo "podemos" pergunto no sentido de "o que temos capacidade" e também "o que nos é lícito", afinal "podemos" nos armar até os dentes (e, claro, fazer uso dessas armas...) como fazem cidadãos de outros países mas, por força da lei, "não podemos" fazer isso, pois se assim agíssemos, nós nos transformaríamos nos transgressores. E muito provavelmente, para nós, haveria punição.
Amigos, pra terminar, só quero dizer que depois de tudo isso, chegando em casa ainda tentei o COPOM no telefone 190 e também não consegui registrar o fato. No site da Polícia Civil dá pra fazer B.O. de furto consumado, tentativa não! Na delegacia eu só vou se o conserto da porta ficar além dos mil reais e eu tiver que usar meu seguro. A última vez que precisei da polícia civil, perdi um dia inteirinho esperando a boa vontade do escrivão pra redigir e depois, do delegado pra assinar... Por isso, deixo mais um alerta. Se virem aquelas propagandas por aí que o governo faz dizendo que a criminalidade no Estado de São Paulo diminuiu, cuidado! Se essa estatística for baseada na quantidade de Boletins de Ocorrência, desconfiem!!! Afinal, todos fazem de tudo pra você desistir de registrar a queixa (os soldados, antes de eu sair do posto policial, ainda argumentaram sobre a inutilidade de fazer o boletim de ocorrência também na delegacia de polícia, já que eu não poderia descrever os "elementos"...)

Um grande abraço a todos!

João Crisóstomo

PS. Seguem dois links. O primeiro com a reportagem do caso da FATEC em 2004 e o segundo com sugestões de dispositivos anti-furto para automóveis. Recomendo o segundo modelo apresentado no video ( # CO -4U).


Bando de folgados, preguiçosos, indolentes! Não podem fazer nada, porque não querem fazer nada. Não há justificativa plausível para tamanha falta de humanidade.