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domingo, 29 de janeiro de 2012

Eterna mesmice

Ano Novo, Carnaval, Páscoa, dia das mães. Festa junina, dia dos namorados, férias de inverno. Dia dos pais, dia da Independência, das crianças e de finados. Proclamação da República, férias de verão e Natal. Entre Ano Novo e Natal, muitos e muitos aniversários que não passam de pretextos para reencontrarmos as mesmas pessoas nos mesmos lugares.
Será que a vida é só isso? Uma chata repetição de datas comemorativas que, quando passa, deixa-nos mais vazios do que éramos antes? Passou o Natal e começou um Ano Novo. Daqui a pouco chega o Carnaval e vem a Páscoa. O que mudou? O que muda? O número do ano na hora de preencher um cheque, a escola de samba campeã do Carnaval, o tamanho do ovo de chocolate? Só isso? Às vezes, nem mesmo isso. Na essência, para falar a verdade, nada muda.
De vez em sempre, nasce um filho numa família, um neto em outra, alguém morre, outro alguém casa, não necessariamente nessa mesma ordem, e tendemos a pensar que houve uma GRANDE MUDANÇA. Na verdade, todas essas coisas servem apenas para confirmar a manutenção do status quo.
Suponha cada um de vocês que sois o centro do Universo. Vocês adoram isso, não? Quando vocês nasceram, tinham pais e avós – nem todos, eu sei, não vamos discutir por ninharia; apenas para seguir uma linha de raciocínio. Agora não têm mais avós, mas possuem filhos. Seus pais envelheceram e estão cada vez mais parecidos com seus avós. Em contrapartida, vocês também envelheceram e estão muito parecidos com o que eram seus pais. E os seus filhos, não lembram muito vocês quando tinham essa idade? E então, novamente cabe a primeira pergunta: o que mudou ao longo dos séculos?
A repetição que acontece todo ano é apenas um simulacro (semelhante, simultâneo, porém numa dimensão microscópica) da repetição que acontece em todas as vidas. A única coisa que mudou ao longo dos séculos é que alguns corajosos tentaram fugir do padrão, saíram de casa, brigaram com os pais e prometeram nunca se casar. Deram-se mal, pois isso tampouco os tornou felizes.
O pior de tudo é a certeza da morte. Seus avós morreram, seus pais certamente morrerão e, querendo ou não, sua hora também vai chegar. A vida é uma ponte que atravessamos e a morte é o Robin Hood, que fica do outro lado da ponte, atirando suas flechas, tentando nos derrubar. Quanto mais perto do fim da ponte, mais fácil é para o Robin Hood nos acertar. E, quando chegar o fim, o que você terá feito: plantado um filho, escrito uma árvore e criado um livro? Não sei... parece-me pouco demais... Verdade que ainda não fiz nenhuma das três coisas, mas é exatamente porque, quando digo “pouco demais”, quero dizer pouco estimulante.