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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Proposta de casamento - parte 2

O tempo passou, ele viajou, ela ficou. Antes, porém, prometeram passar o último mês o máximo de tempo possível juntos. Promessa cumprida. Ela conheceu a família dele – foi ao aniversário do irmão dele – ele conheceu a irmã dela e falou com a “sogra” pelo telefone. Era preciso agradecer àquela senhora por ter colocado aquela mulher no mundo. Ele a levou (a mulher, não a sogra) a shoppings que ela nunca tinha ido, pizzaria, acompanhou-a ao médico duas vezes e, antes mesmo de casar, criou uma barriguinha saliente por comer tantas gostosuras na casa dela.


Mas ele viajou e, de repente, eles, que se vangloriavam por não estar apaixonados, passaram a sentir muita falta um do outro. A paixão é mesmo uma droga. Ela só nasce em terrenos inférteis. Quanto mais infértil, melhor para ela. A maldita vive de dificuldades! E ele estava com medo de fazer a fatídica pergunta. Afinal, ela ainda lhe devia uma resposta. E a distância complicava tudo.

- E aí, pensou? - perguntou ele, por telefone 
- Ai, amor, minha cabeça está a mil. Eu penso tanta coisa. Por que você foi embora?
- Porque aí não é o meu lugar. Nem o seu. Para que você pudesse vir para cá. Porque você jamais sairia da sua cidade para ir aonde você se sente bem, se não houvesse um motivo maior. Você nunca viria “só” porque você se sente bem. Então... aqui estou! Seu motivo maior. 
- Tássia, né?
- Tássia o quê?
- Está se achando!
- Engraçadinha... Agora que quebramos o gelo e sorrimos, diga-me: em que pensa? O que lhe atormenta o coração?
- Eu não queria ficar tão longe da minha mãe. Imagine as dificuldades de criar filhos longe dos avós...
- Muito mais difícil é criá-los perto!
- Por quê?
- Porque os avós palpitam demais, interferem demais, mimam demais!
- Ah, mas é super normal os avós mimarem os netos.
- Não é porque é normal que é certo. Só ouço pais reclamarem das interferências, dizem que os avós destroem tudo o que eles constroem, etc. Não, não. Quanto mais longe, melhor.
- Nossa! Você é um monstro de frieza! Credo!
- Venha para cá ver como estou frio. Parece que estou morto. Se demorar muito, vai começar a decomposição.
- Por que você faz brincadeira com tudo?
- Porque eu estou feliz!
- E eu, com saudade.
- Eu também. O que não me impede de estar feliz.

Ela deu um sorrisinho e o chamou de “bobo”. Mas depois lembrou-se da conversa:

- Você não gostava de ser mimado pelos seus avós?
- Claro que sim! Principalmente porque, por eu ser o primeiro neto, sempre fui o preferido.
- E por que negar isso a seus filhos?
- Uai! Porque eu sempre penso no que é melhor pra MIM!!!
- Você é um monstro mesmo! Um poço de egoísmo! Por que não fala sério?
- Quer falar sério? Bem... um dia sua mãe vai morrer, seu pai também, seus irmãos vão se casar ou vão seguir a vida deles... e você? Querida, chegamos a este mundo sozinhos e vamos sair dele sozinhos. Cada um tem a sua vida e temos que viver a nossa da melhor maneira possível, desapegados de coisas, pessoas e lugares. Chega um momento em que temos que caminhar com nossas próprias pernas. E a Vida não perdoa. Se você não caminhar com suas próprias pernas agora, terá que caminhar depois que seus pais morrerem. Se quando chegar a hora, você estiver caminhando com as pernas de outra pessoa – seu marido, por exemplo – não se preocupe, pois a Vida dará um jeito de fazê-la aprender. Não tem jeito. A gente aprende pelo amor e/ou pela dor. Melhor que seja pelo amor. Porque, quando é pela dor, muitas vezes dói bem mais do que achamos que podemos agüentar.
- Você acha que eu não caminho com as minhas próprias pernas?
- Não, não acho. Este exemplo foi mais pensando em mim do que em você. Afinal, sou um poço de egoísmo. Mas acho que dá para extrair alguma coisa útil do que falei no fim das contas.
- Eu amo a sua sinceridade!
- Só isso?
- Não, né? Amo você todinho.
- Toddynho? Por isso, então, que sou frio. Toddynho só é bom se estiver gelado.
- Amo você INTEIRINHO. Está bom assim?
- Está melhor. Bom mesmo, só quando você me disser “sim”.
- Acho, então, que precisará de uma PROPOSTA DE CASAMENTO – PARTE 3, hein! 
- Por mim, tudo bem. Adoro escrever.

Dessa vez, não teve beijo nem abraço na despedida. Desligaram o telefone, suspiraram com o aparelho à altura do peito e choraram. MALDITA PAXÃO!

4 comentários:

  1. uauauauuauauauau kkkkkkk Mas o amor existe até para as criaturas que dizem não acreditar nele!!!
    De novo tive que citar vc no meu blog, veja lá o que acabei de postar!

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  2. Gostei....belo texto Greghi Moore....então,,,,mooooreeee !!! Abs

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  3. Você continua escrevendo super bem, se nao fosse pelo fato de vc querer levá-la pra morar naquela cidade fulminante, eu te apoiaria totalmente na "Proposta de casamento"...

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