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domingo, 13 de maio de 2012

Fé racional

Muitos autores, ao longo dos séculos, abordaram Cristo em diferentes aspectos espirituais: sua divindade, seu propósito transcendental, seus atos sobrenaturais, seu reino celestial, sua ressurreição, a escatologia (doutrina das últimas coisas), etc. Esse texto vislumbra a personalidade de Cristo. Uso o verbo "vislumbra", porque é o máximo que se pode ter dele: uma imagem distante, bem apagada e opaca. E já ficamos admirados apenas com esse vislumbre! Imaginem quando o conhecermos no resplendor de sua glória!
Augusto Cury estuda e pesquisa o funcionamento da mente humana por aproximadamente duas décadas e afirma com segurança que Jesus possuía uma personalidade bastante complexa, muito difícil de ser investigada, interpretada e compreendida. Esse foi um dos fatores que inibiram a ciência de procurar investigar e compreender a inteligência de Jesus. Suas reações intelectuais e emocionais eram tão surpreendentes e incomuns que ultrapassam os limites da previsibilidade psicológica. Os níveis de sua coerência intelectual, sua capacidade de gerenciar a construção de pensamentos, de transcender as ditaduras da inteligência e de abrir as janelas da mente das pessoas que o cercavam estão muito acima do que a mente humana pode compreender.
A ciência se cala quando a fé se inicia. A fé transcende a lógica. É uma convicção em que há ausência de dúvida. A ciência sobrevive da dúvida. Quanto maior for a dúvida, maior poderá ser a dimensão da resposta. Sem a arte da dúvida, a ciência não tem como sobreviver e expandir a sua produção de conhecimento.
Jesus discorria sobre a fé. Falava da necessidade de crer sem duvidar, de uma crença plena, completa, sem insegurança. Porque a dúvida nos angustia. Ele falava da fé como um misterioso processo de interiorização, como uma trajetória de vida clandestina. Discorria sobre a fé como um viver que transcende o mundo material, extrapola o sistema sensorial e cria raízes no âmago do espírito humano.
Apesar de Jesus Cristo falar da fé como um processo de existência transcendental, ele não anulava a arte de pensar; pelo contrário, era um mestre excepcional nessa arte. Ele não discorria sobre uma fé sem inteligência.
Para ele, primeiro deveria se exercer a capacidade de pensar antes de crer, depois vinha o crer sem duvidar. Se estudarmos os quatro evangelhos e investigarmos a maneira como Jesus reagia e expressava seus pensamentos, constataremos que pensar com liberdade e consciência era uma obra-prima para ele.
Um dos maiores problemas enfrentados por Cristo era o cárcere intelectual em que as pessoas viviam (e ainda hoje vivem), ou seja, a rigidez intelectual com que elas pensavam e compreendiam a si mesmas e o mundo que as envolvia. Por isso, apesar de falar da fé como ausência de dúvida, ele também era um mestre sofisticado na arte da dúvida. Ele a usava para abrir as janelas da mente das pessoas que o circuncidavam (Lucas 5:23; 6:9; 7:42). Jesus era um excelente indagador e um ousado questionador. Usava a arte da dúvida para conduzir as pessoas a se interiorizarem e a se questionarem.
Por que suas palavras permanecem vivas até hoje, mexendo com centenas de milhões de pessoas de todas as línguas e de todos os níveis sociais, econômicos e culturais? Por que homens que nunca o viram ou tocaram - entre eles pensadores, filósofos e cientistas - disseram espantosamente ao longo da história, que não apenas creram nele, mas também o amaram?
Cristo gostava e queria ser estudado, analisado e indagado com inteligência. Criticava as pessoas que o analisavam superficialmente. Ainda hoje, ele pode nos responder a qualquer pergunta que fizermos. Afinal, Ele é o senhor da sabedoria.
Os princípios da inteligência de Cristo podem abrir as janelas da mente de qualquer pessoa, até mesmo das não-cristãs. Tais princípios são tão complexos que diante deles até os ateus mais céticos poderão enriquecer sua arte de pensar. É difícil encontrar alguém tão interessante que possua o dom de perturbar nossos conceitos e paradigmas existenciais. A ponto de, como disse Paulo, passarmos a odiar o que amávamos e amar o que antes odiávamos.
Com o decorrer dos anos, à medida que Augusto Cury atuou como psiquiatra, psicoterapeuta e pesquisador da inteligência e investigou diversos tipos de personalidade, compreendeu que o ser humano, apesar da complexidade da sua mente, é freqüentemente muito previsível. O Mestre dos mestres fugia a essa regra. Possuía uma inteligência capaz de provocar a inteligência de todos os que cruzavam com ele.
Ele tinha plena consciência do que fazia. Suas metas e prioridades eram bem estabelecidas (Lucas 18:31 e João 4:31). Era seguro e determinado, mas, ao mesmo tempo, flexível, extremamente educado e atencioso. Tinha paciência para educar, mas não era um mestre passivo e sim provocador. Despertava a sede de conhecimento nos seus íntimos (João 1:37-51). Informava pouco, porém educava muito. Era econômico no falar, dizendo muito com poucas palavras e até o seu silêncio dizia muito. Mesclava a singeleza com a eloqüência, a humildade com a coragem intelectual, a amabilidade com a perspicácia.
Os judeus esperavam alguém que os libertasse do jugo romano, mas veio alguém que queria libertar o ser humano das suas misérias psíquicas. Esperavam alguém que fizesse uma revolução exterior, mas veio alguém que propôs uma revolução interior. Seu projeto era audacioso. Ele afirmava que primeiro o interior - ou seja, o mundo dos pensamentos e das emoções - devia ser transformado; caso contrário, a mudança seria apenas exterior e não teria estabilidade; não passaria de maquiagem social (Marcos 7:17-23 e João 8:36). Para Cristo, a mudança exterior era uma conseqüência da transformação interior.

Um comentário:

  1. Esse texto é do Augusto Cury. Você só fez algumas adaptações e incluiu uma frase ou outra.

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