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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Fortaleza rural

No que eu pensei que seria meu último domingo em Fortaleza, descobri uma nova capital cearense: a Fortaleza rural, a Fortaleza do mato e não da praia, a Fortaleza que está mais pra interior do que pra litoral.

Trilha do Rio Cocó

Fiquei pensando também como é fácil enganar as pessoas. Se eu quisesse, poderia escrever um texto descrevendo e mostrando esta Fortaleza, pois como vocês podem ver nas fotos, ainda provo o que digo. Ainda assim, essa seria apenas parte de Fortaleza. Do mesmo jeito que o senso comum não expressa a realidade: por exemplo, imaginar que na capital cearense sempre haja sol e todo dia a população aproveite a praia.
O povo cearense é trabalhador, inteligente, esforçado e nesta cidade também chove. E chove muito! Terça-feira (27/03) caiu a segunda maior chuva da história na capital cearense. Fiquei impressionado! Assustado eu fiquei quando meu chefe disse "você não viu nada ainda". Tranqüilizei-me à noite assistindo ao CETV. Foi quando soube que tinha sido a segunda maior chuva desde 1978 (quando começaram a medir). Para o meu chefe e alguns colegas, não foi nada, pois eles enfrentaram a maior chuva da história da capital há 3 ou 4 anos. Disseram que naquele ano, ao sair na avenida Duque de Caxias (uma das principais do centro de Fortaleza) a água chegava nas canelas.
Mas eu quero falar da Fortaleza rural. Há dois domingos (em 25/03) finalmente conheci o Parque do Cocó. O Parque do Cocó é uma área de conservação, um parque estadual da vida natural e ocupa 1.155,2 alqueires. Mesmo assim, no meio do parque, foi construído o Shopping Iguatemi, de propriedade do Grupo Jereissatti.


Pombinhos na entrada do Shopping Iguatemi

Na praça de alimentação desse shopping, fui lesado na hora do almoço. Infelizmente não lembro mais o nome do restaurante, pois minha vontade era denegrir a imagem deles, já que, na balança, o quilograma da comida estava marcado R$ 34,90 (já é caro, mas domingo e, ainda em shopping, tudo bem). Na hora de pagar, cobraram-me R$ 49,90 o quilograma. R$ 15,00 a mais! Por quê? Porque eu peguei bacalhau e frango grelhado. Aquele preço era só para massas. Paguei e deixei quieto. Não ia estragar o meu almoço por causa disso. Quando liguei para a minha esposa e contei o ocorrido, ela lembrou-me do Código de Defesa do Consumidor, que diz que, se o estabelecimento não informa anteriormente a diferença de preço, prevalece o menor preço anunciado. Deve ter tanta coisa nesse Código de Defesa do Consumidor que a gente esquece e acaba sendo prejudicado por pura desinformação que eu nem sei, viu. Mas a senhora Greghi é advogada e andando com ela é mais fácil de lembrar. Pena que ultimamente tenho andado pouco com ela e esse é outro dos inúmeros motivos pelos quais ela faz falta.
Após ser lesado e almoçar, tive que sair correndo da Saraiva para evitar comprar O SEMEADOR DE IDÉIAS E O VENDEDOR DE SONHOS - REVOLUÇÃO DOS ANÔNIMOS, do Augusto Cury, que estavam muitíssimo baratos!
Saí não só da loja, mas também do shopping e enquanto caminhava em direção a uma das trilhas do parque, passei sobre uma das pontes sob a qual passa o Rio Cocó . O rio é o responsável pelo nome do parque. Na Serra da Aratanha, município de Pacatuba, nasce o rio Pacatuba que, mais adiante, passa a ser denominado de riacho Gavião. Somente na entrada do município fortalezense, no bairro de Ancuri, o riacho recebe a denominação de Rio Cocó.


Rio Cocó

Caminhando um pouco mais, encontrei a entrada para uma das trilhas do Rio Cocó e, agora sim, começa a emoção. Não porque a trilha seja difícil. Que nada! Pelo menos, pela que eu passei, a não ser por muitos trechos escorregadios devido à chuva da noite anterior, até que foi bem tranqüila. Uma caminhada de pouco mais de um quilômetro em que podemos ver o bioma de mangue, às margens, bem pertinho. Em alguns trechos da trilha, as copas das árvores da margem esquerda encontram-se com as da margem direita lá em cima e a trilha fica escura. Até que é interessante pela paisagem que se vê e também pelo contraste, pois toda essa "selva" fica dentro de Fortaleza e, olhando-se mais longe, até conseguimos ver prédios.


Parque Ecológico do Rio Cocó


Agora o verdadeiro motivo da emoção é que, quando eu disse aos meus colegas de trabalho que eu queria ir lá, um dos mais "sem futuro" - expressão cearense para o que, em São Paulo, pode ser traduzido por "zoador" - disse para eu tomar cuidado, porque lá costumam sumir alguns corpos. Claro que não acreditei nele logo de cara e tirei a prova com outros colegas que fizeram expressão facial de dúvida, como quem diz "nem tanto ao céu nem tanto à terra". Perguntei para a colega aqui da pousada e ela disse para eu ver se tivesse gente andando lá, tudo bem, eu poderia seguir em frente; caso contrário, seria melhor voltar. Provavelmente o que me fez entrar foi que logo na entrada tinha um guarda da Polícia Militar Ambiental que me disse que lá na frente tinha mais policial. É verdade. Durante toda a extensão da trilha, encontrei policiais, não só fazendo a ronda, mas também limpanda a trilha. Um deles me disse que uma mulher tinha caído em um dos locais escorregadios.


Praça Adhail Barreto no Parque do Cocó


Essa proteção é necessária, pois no entorno do parque, várias áreas que seriam de proteção, foram invadidas por pessoas de baixa renda que acabam gerando problemas de criminalidade onde, em locais próximos dessas favelas, o parque torna-se área de fuga após ações de criminosos. Esta situação também gera esgoto para o interior do rio.
Essa não é a única trilha. Eu é que não tive coragem de encarar as outras, que se aprofundam mais na floresta. Apesar de andar com Jesus - meu pastor e protetor - lembro que, quando no deserto, Satanás pediu para Ele provar que era Deus, atirando-Se do pináculo do templo, pois Seus anjos viriam acudi-Lo. Jesus respondeu que não deveríamos tentar o SENHOR, nosso Deus. A discussão sobre por que Jesus não pode usar Seu poder infinito para vencer a tentação (benefício próprio) é longa demais. Então... passemos adiante.
Ao completar a trilha, subi em direção à Praça Adhail Barreto, administrada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Nesta praça, estão o núcleo de conscientização ambiental, playground, pista de cooper, trenzinho e a entrada para outra trilha ecológica. É lá também que se costuma promover eventos culturais, artísticos e religiosos e foi por isso que conheci essa praça, parte do Parque do Cocó. No final do ano passado, houve evento da igreja lá.


Estátua de Iracema na Praia de Iracema. Nada a ver com o texto, mas a foto é linda. rsrsrs


Após a aventura, veio a outra característica pela qual a vida no campo é conhecida: tranqüilidade, paz e harmonia com a natureza. Tomei o ônibus e lá fui eu para a periferia de Fortaleza, um dos bairros mais distantes da praia: Messejana. É impressionante! Já visitei várias capitais do país e algo que todas têm em comum é o preterimento da periferia em preferência das áreas centrais e bairros nobres. Parece até que é normal!
Para chegar em Messejana, por exemplo, o ônibus passa por uma rua (asfaltada, ainda bem, mas suspeito que só tenha sido asfaltada porque é trajeto do ônibus) aberta no meio do mato. Nas margens da rua, só se vê mato. Há uma parada no caminho onde, à noite, não se pode esperar ônibus: o banquinho é de madeira e não há nada por perto. Chegando lá, a vista da lagoa vale à pena! É estranho... senti-me em outra cidade. Há a pracinha no centro, onde os idosos sentam para papear e jogar; havia brinquedos como pula-pula onde as crianças brincavam e, claro, vendedores de pipoca, café, suco, milho. Uma igreja bem em frente à praça e tudo nos levava a nos sentir numa cidadezinha do interior.


Lagoa de Messejana


Na lagoa, um homem pescava. Disse que só estava dando peixe pequeno. É época de chuva e os peixes se reproduzem nessa época. Gostei de saber que a lagoa está viva. Significa que ainda não foi poluída. Mas não significa que dê para nadar. Arrisque-se pular e não mais voltar. A lagoa tem 15 metros de profundidade, podendo chegar a 18 metros em épocas de chuva. Mas a verdade é que, passando de dois metros, quaisquer 3 metros a mais, não faz diferença. Seu espelho d'água ocupa uma extensão de 33,5 hectares, sendo a segunda maior lagoa da cidade, perdendo apenas para a lagoa redonda.
Mas por que eu quis visitar a segunda maior lagoa da cidade, ao invés da primeira? Por causa dela: a maior estátua de Iracema que temos na cidade, pesando 16 toneladas e medindo 12 metros de altura.

Maior estátua de Iracema da cidade

Para quem não sabe, Fortaleza é também conhecida como cidade alencarina, em referência ao maior escritor do Romantismo brasileiro, José de Alencar, natural de Fortaleza, e criador da personagem indígena mais famosa da literatura brasileira: Iracema, a virgem dos lábios de mel. Há cinco estátuas da personagem espalhadas pela cidade, segundo informações da monitora de visitas da exposição do escultor Zenon Barreto, criador de duas estátuas. Além desta, tem também a guardiã da Praia de Iracema, inaugurada em 1996, depredada por vândalos a cerca de um mês. Reparem na posição da guerreira, virada para a praia, pronta para o início da batalha.


Iracema, a guardiã


Para finalizar essa história de um domingo espetacular, não posso deixar de contar como Jesus cuida de nós até nos pequenos detalhes. Claro, se Ele consegue fazer coisas grandiosas, as pequenas são "fichinha". Após essa viagem pelo interior de Fortaleza, é óbvio que eu estava cansado. Quando cheguei ao terminal de Messejana, havia uma imensa fila de gente para entrar no ônibus. Beleza, eu estava passeando. Nem pedi nada nem reclamei. Entrei no ônibus e fiquei espremido entre a multidão. Assim que o ônibus entrou na rua da lagoa, ainda em Messejana, não sei por que eu olhei para trás. E lá estava: um lugar vago para eu sentar. O ônibus ainda estava lotado, mas ninguém quis sentar. Aquele lugar tinha sido reservado para mim. Nada me faz merecedor de tamanha graça. É por amor. Simplesmente por amor.

Estátua de Iracema. Quando depredada por vândalos, perdeu ambas as mãos e o arco. Lamentável!

Um comentário:

  1. Legal conhecer essa "nova" Fortaleza. Belas fotos! Cara, você é louco de encarar esse tal Parque do Cocó nessa situação que você contou.

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