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domingo, 12 de junho de 2011

Proposta de casamento

Eles se conheciam havia já um ano. Trabalhavam no mesmo lugar, conversavam sempre. Às vezes, almoçavam juntos; às vezes, até de domingo! Tomavam sorvete e comiam pizza, não necessariamente nessa ordem. Ela gostava de caminhar ao lado dele e ele gostava de vê-la sorrir por qualquer besteira. Eram amigos. Nesse um ano que se conheciam, nunca se deram as mãos ou os braços. Quer dizer, literalmente falando. Figurativamente falando, sim, já se deram as mãos e os braços.
Uma noite, enquanto caminhavam sob as estrelas, ele quebrou o silêncio:

- A gente podia casar, né? - disse assim, como quem convida para ir ao cinema.
Ela olhou para ele obviamente surpresa e perguntou:
- Casar??? Como assim?
- Casar, uai! Juntar as escovas de dentes, amarrar o burro, juntar os trapos, etc.
De vez em sempre, ele respondia assim, como se fosse o Homem de Neanderthal.
- Mas a gente nem se gosta. - disparou ela, à queima-roupa.
Ele se ofendeu:
- Como a gente nem se gosta? Eu me sinto hiper bem quando estou contigo. Você diz que ora por mim todos os dias. Sinceramente, não parece atitude de quem não se gosta.
- A gente se gosta. Mas como amigo. Não para casar. - corrigiu ela.
- Ah, é verdade, eu tinha me esquecido que, para casar, é preciso ser inimigo. Por isso, dizem que se casa CONTRA alguém e não COM alguém. Por isso também, há tantos divórcios. Casando com o inimigo... É, você tem razão. Prefiro continuar sendo seu amigo.

O silêncio retornou àquela noite. Ele estava contente em ser amigo dela. Só queria uma companhia para o fim dos seus dias. Ela pensava que ele tinha idéias muito radicais. Religião, família, dinheiro... às vezes, ele dizia coisas que a chocavam. Se ele não fosse tão doce, outras vezes, ela juraria que ele era louco. Deve ser louco mesmo! Como pode ser tão contraditório?
Ele quebrou o silêncio novamente:


- Acho que a gente podia casar, mesmo sendo amigos. Seríamos um casal diferente. Dificilmente nos separaríamos.
- Supondo que a gente se case... como amigos... como você acha que a gente teria um filho?
- Como todo mundo faz quando quer ter um filho, oras.
- Você acha que rola?
- Claro! Você é bem gostosa!
- Que é isso, menino?! Isso são modos de falar comigo? - ralhou ela.
Ele não respondeu. Apenas sorriu e olhou para ela com aquela cara de lobo no cio.
Ela pousou ambas as mãos sobre a face dele e disse com toda ternura:
- Escuta uma coisa: eu não sou apaixonada por você.
Ele ficou exultante e exclamou:
- Isso é maravilhoso! Magnífico! Porque eu também não sou apaixonado por você. Nem pretendo ficar. E espero que você também não fique. Esse nosso estado de espírito - desapaixonado - é o melhor para tomarmos uma decisão desse porte. Podemos raciocinar, pesar os prós e os contras e decidir com base em dados; não em emoções. Se nossa visão estivesse encoberta pelo véu da paixão, jamais teríamos essa discussão. Você diria "sim" e nós casaríamos sem nem pensar. Que bom que não estamos apaixonados!
- Tudo bem. Vamos ver aonde essa discussão nos levará. Quais seriam os contras de se casar comigo?
- Acho que a sua vida financeira é muito bagunçada. Você compra por impulso, o que demonstra sua ansiedade e seu descontrole sobre ela [ansiedade]. Quando você efetua uma compra, você se sente momentaneamente feliz, porém, no momento seguinte, sente-se frustrada por não ter conseguido se controlar. Então precisa fazer outra compra para reduzir aquela frustração/ansiedade. A partir do momento que nos casarmos, a sua vida financeira interferirá na minha vida financeira e as brigas e divórcios da maioria dos casais acontecem por causa de dinheiro. Esse é um ponto negativo seu muito sério. Mas agora é a sua vez. Quais seriam os contras de se casar comigo?
- Bem... você é tão cabeça dura que, se eu não soubesse que você é extremamente inteligente, eu diria que você é muito burro. Ou talvez isso seja um agravante. Você não poderia ser tão inteligente e tão cabeça dura ao mesmo tempo. Isso faz de você um completo tapado! Você acha que sabe tudo e quer ter sempre razão. Você é mão-de-vaca, só pensa em si próprio e não tem ambição. Como eu poderia casar com um cara que não ambiciona nada na vida?
- Acabou comigo, hein!
- E você, comigo!


Um tempo se passou enquanto ambos absorviam o que tinham acabado de falar e ouvir. Impossível absorver tudo assim, de uma vez. Então, logo ele retornou à conversa:


- Vamos aos prós, então?
- Sim. Eu gosto quando estou com você, gosto de conversar com você e me sinto útil lhe dando conselhos. Gosto do seu humor negro, das suas ironias e quando você tenta me ensinar alguma coisa. Você é atencioso, simpático com todos; você é carismático! Todo mundo gosta de você. Certo. Nem todo mundo. Mas seria legal ser mulher de alguém tão popular. Você é uma ótima pessoa e parece saber lidar bem com dinheiro. Ah! Também é uma ótima companhia. Mas... e na sua opinião, quais seriam as vantagens de se casar comigo?
- Eu vou te falar duas vantagens principais: 1) a gente se dá bem e a tendência é nos darmos cada vez melhor. 2) você é dona de uma moral ilibada.


Ela sorriu timidamente e agradeceu.


- Obrigada. Por que diz que a tendência é nos darmos cada vez melhor?
- Como você não acredita em Astrologia, nem vou tentar explicar.
- Eu não entendo como um cara tão inteligente pode acreditar tanto em Astrologia!
- E eu não entendo como uma mulher com dois diplomas do Ensino Superior pode acreditar na Teoria da Criação. Mas a gente não discute essas coisas, porque respeitamos as crenças do outro e é por isso que nos damos bem. Estamos sozinhos e gostamos das nossas respectivas companhias. Por isso, acho que devemos casar.


COM LICENÇA, QUERIDOS LEITORES, PERMITAM UM PARÊNTESE DO NARRADOR PARA UMA OBSERVAÇÃO QUE EU NÃO PODERIA DEIXAR PASSAR:
QUEM, EM SÃ CONSCIÊNCIA, DIRIA "GOSTAMOS DAS NOSSAS RESPECTIVAS COMPANHIAS"?
CONTINUANDO...


- Bom... ainda bem que não estamos apaixonados. - considerou ela.
- É.
- Isso quer dizer que eu não preciso decidir nada agora.
- Certo.
- Então eu vou pensar, vou analisar a questão por todos os ângulos e, quando decidir, te dou a resposta, ok?
Ele sorriu e finalizou:
- É por isso que eu te amo!
- Também te amo!
Despediram-se com um abraço apertado, ela entrou na casa dela e ele seguiu de volta para a casa dele.

5 comentários:

  1. Rafa, nunca li um texto seu tão "autoral", me conta, esse diálogo aconteceu mesmo né? rsrs

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  2. Com certeza esse diálogo aconteceu, certeza absolutaaaaaaaaaaaaaaa!!!!kkkk
    lindo!!!

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  3. Sei lá o q te falar desse texto!Não é bom, nem ruim, é apenas seu ponto de vista e respeito ele, mas acho q isso n aconteceria
    bj

    wwww.anaherminiapaulino.blog.uol.com.br

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  4. todos os doidos são admiráveis... e creem naquilo que muitos não podem ver...

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  5. Com certeza esse dialogo aconteceu... Tenho certeza! kkkkkkk

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