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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Banco do Brasil: uma das 15 melhores empresas para se trabalhar. Em Marte!

Desde o início da minha faculdade de jornalismo, minha atividade favorita nessa área é analisar capas de revistas, primeiras páginas de jornais e as próprias matérias, tentando descobrir o que há por trás do que é visível, o que há nas entrelinhas. Foi assim que verifiquei que a Folha de São Paulo publicou uma foto do Fernando Henrique Cardoso caminhando de muletas ao sair do hospital com o pé quebrado (coitadinho do velhinho) e, na mesma página, o Lula dentro de uma Ferrari no Salão do Automóvel (vagabundo, filho da puta, se divertindo e adquirindo bens às nossas custas). Isso há exatamente uma semana do primeiro turno das eleições! A Folha é sutil e, por isso mesmo, mais perigosa. O Estado já declara logo que apóia o Serra e vai fazer campanha para ele e pronto! É muito melhor.
Há muito tempo não acredito mais em pesquisas de boca de urna e de popularidade de Presidente da República. E é exatamente sobre uma pesquisa que quero falar.
Recentemente saiu na agência de notícias interna do Banco do Brasil que ele era uma das 15 melhores empresas para se trabalhar. Lembram-se do falecido Notícias Populares? Os repórteres eram muito criativos, pois colocavam aquelas machetes para chamar a atenção e quando líamos a notícia era algo muito menos atrativo do que a manchete. Foi mais ou menos o que aconteceu com essa notícia: BB É UMA DAS 15 MELHORES EMPRESAS PARA SE TRABALHAR NO BRASIL.
Fui ler a notícia e vi que faltaram informações na manchete: uma das 15 melhores para se trabalhar com mais de 5.000 (cinco mil) funcionários e cujo faturamento em 2009 tenha sido superior a 2 bilhões de reais. Meu Deus! Quantas empresas no Brasil possuem esses pré-requisitos?!
Tudo bem... na época, comentei apenas com colegas de trabalho... nem falei nada lá em casa, nenhum comentário com amigos, pois se o responsável por divulgar essas informações não tem vergonha na cara, eu tenho.
O problema é que semana passada, ao chegar em casa, vi a revista institucional em cima da mesinha do meu quarto, como minha mãe deixara, com essa notícia no rodapé. Virei a capa da revista para baixo, de forma a esconder isso. Se alguém da família visse aquilo, comprometer-me-ia. E se perguntassem: “Você está reclamando de quê?” É complicado... eu nunca comento as coisas que acontecem no trabalho, porque temos assinado um termo de sigilo. Mas também porque eu tenho vergonha das coisas que eu vejo, leio e ouço ali. Vai ver é até por isso o sigilo.
Tudo bem que é uma revista institucional, mas não precisa exagerar. A repórter Monique Cardoso, autora da matéria O MELHOR LUGAR PARA TRABALHAR (aí já começa o exagero, visto que não é o melhor, mas um dos 15 melhores, segundo critérios duvidosos) lançou esta pérola que deve ir para os anais dela, do editor dela e do jornalismo como uma das maiores mentiras de que se tem registro: “A valorização do funcionário é palavra de ordem no Banco, que assume como verdade incontestável a premissa de que o funcionário é o maior bem da empresa”. Ainda bem que a minha família não lê essa revista! Mas penso nos milhões de colegas espalhados pelo Brasil tentando desmentir essa falácia para pais, filhos, cônjuges...
Considerem os seguintes exemplos:
Implantou-se um Comitê de Ética para combater o assédio moral que existe, é fato, em todos os bancos. Só que esse comitê possui 4 (quatro) representantes do banco e só 1 (um) dos funcionários. Para inglês ver. Tanto isso é verdade que ainda hoje tive informações de que esse comitê ainda não se reuniu para julgar um único caso sequer em lugar nenhum deste vasto Brasil. Cada estado tem o seu Comitê de Ética e nenhum dos 27 (26 estados + 1 DF) atuou até agora.
Segundo a representante dos funcionários de São Paulo que eu prefiro preservar a identidade, isso acontece porque denúncias só são encaminhadas ao Comitê de Ética quando há reincidência na Ouvidoria Interna em um período de 3 (três) meses. Ou seja, o assediador fica bonzinho por três meses e, depois, volta à carga.
Outro absurdo que ainda ocorre no Banco do Brasil é a discriminação de funcionários pela data de ingresso no banco. Não somos discriminados pela nossa orientação sexual, nem pela nossa religião, nem pela nossa raça, nem pelo nosso sexo. Somos discriminados porque tomamos posse no banco ANTES ou DEPOIS de 1998.
Quem tomou posse antes de 1998, tem direito a licença-prêmio, anuênio, qüinqüênio e uma série de outras vantagens que quem tomou posse depois do referido ano não tem. Só que em 1998 eu tinha apenas 15 anos. Não podia tomar posse em lugar nenhum. No máximo, no meu quarto. Devo ser punido por ter nascido em 1983?
Devo ainda lembrar mais uma manipulação que os responsáveis pela comunicação alardeiam com muito óleo de peroba na cara: o blog da Negociação Coletiva. O Banco do Brasil é tão democrático que lançou um blog da Negociação Coletiva, o qual noticia o ano inteiro o andamento da negociação. E ainda há espaço para comentários! Oh, que beleza!
Todo bancário sabe que o Sindicato da categoria é conduzido pela CUT e que a CUT tem vínculos com o PT que, por acaso, está no governo, que é sócio majoritário do Banco do Brasil. Historinha que até lembra o princípio jurídico das ditaduras: eu te acuso, julgo (ou seja, condeno) e estabeleço a pena (de morte, geralmente).
Esta é uma das 15 melhores empresas para se trabalhar. É nojento!
Me desculpem se o texto está ficando grande, mas exemplos confirmam argumentos.
O departamento de Logística do banco em Campinas era o melhor do Brasil, segundo critérios de avaliação do próprio banco. Em 2007, houve uma reestrutração e simplesmente acabaram com o departamento de Logística em Campinas. São Paulo absorveu os serviços e as opções dadas aos colegas foram: ou você vai para São Paulo ou vai procurar uma agência para trabalhar. Muitos colegas que trabalham em agência sonham em transferir-se para departamento e os que trabalham em departamento têm seus piores pesadelos com agências. Eu já trabalhei em ambos e posso falar: agência é uma merda. Agência bancária é igual hospital: você não vai lá, se estiver tudo bem. Só aparece gente com problema, com a faca entre os dentes. E quando aparece um cara legal querendo fazer uma aplicação, você é obrigado a vender a meta do mês: título de capitalização, plano de previdência, coisas que não tem nada a ver com aplicação. Aplicação de golpe, isso sim. Fraude. Eu não me sentia bem fazendo isso com o cliente. Eu não gostaria que fizessem isso comigo. Não vou gostar de fazer com os outros. A vida sempre dá o troco. E não é que a gerente do Itaú me vendeu um plano de previdência como aplicação alternativa à poupança que eu tinha lá?
Está certo... é a agência que traz dinheiro para o banco. Corrigindo e me desculpando: são os clientes que fazem isso. Mas quem tem contato com o cliente é a agência. É lá que o banco acontece. É claro que eles precisam do suporte do departamento interno – que tem o seu valor – mas eu não quero acirrar a rivalidade, que já é grande entre as áreas. Acho que expliquei porque a opção de buscar agência para trabalhar não era nada interessante para os colegas de Campinas que, além de tudo, perderiam a comissão. Ou seja, o salário também sofreria redução significativa. Portanto, escolheram vir trabalhar em São Paulo (não todos, claro) e perderam qualidade de vida, pois hoje precisam acordar mais cedo para viajar e enfrentar o trânsito infernal da cidade, chegam em casa mais tarde e pior de tudo: não são reembolsados das despesas com o ônibus fretado. São R$ 400,00/mês que os colegas pagam para trabalhar!
Enquanto isso, o departamento de Logística de Ribeirão Preto, que nem é completo, mas está sediado na cidade do então ministro da Fazenda Antonio Palocci, continuou lá, funcionando manco, sem setor de Licitações nem de Administração de Contratos.
Isso porque “a valorização do funcionário é palavra de ordem no Banco, que assume como verdade incontestável a premissa de que o funcionário é o maior bem da empresa”. Imagina se não fosse, hein!

P.S. Essa semana faltou energia em TODA A REGIÃO NORDESTE, com exceção do Maranhão. É que o Maranhão é mesmo uma exceção ao Brasil. O Maranhão não é do Nordeste nem do Brasil. É do Sarney. Tem suas vantagens. Ao faltar energia na região, o gerador dos Sarney foi acionado e alumiou o estado.

Um comentário:

  1. Parabéns!!! Não por trabalhar no: "Banco do Brasil: uma das 15 melhores empresas para se trabalhar."
    Mas sim pelo belo texto, confesso que me enquadrei na parte dos que acordam mais cedo e pegam o fretado todo dia pra vir pra SP, até o valor da mensalidade é o mesmo, a diferença é que eu venho por opção e não pela falta dela, pra mim, pode até ser cansativo, mas é gratificante.

    Saudades de você.

    Beijos

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