Seguidores

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Breve história das duas últimas décadas

Em 2002, quando Lula foi eleito, o Brasil parecia estar num beco sem saída: éramos reféns do FMI e estávamos a um passo da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).
Lendo o caderno DINHEIRO, na FOLHA DE SÃO PAULO, ou ECONOMIA, no ESTADO DE SÃO PAULO, concluíamos que o Brasil precisava fazer algumas coisas diferentes do que mandava o FMI. Mas não podia. Era preciso seguir as diretrizes do Fundo Monetário Internacional. Não tínhamos autonomia para mandar no quintal da nossa própria casa e isso não era um absurdo!
Após a moratória decretada por José Deus nos Livre da Reeleição Sarney, era preciso recuperar nossa credibilidade. Mostrar-nos novamente dignos de confiança. A única maneira de fazer isso era obedecer ao FMI e pagar a dívida.
Depois do controle da inflação, esse foi o maior mérito do governo FHC: recuperou a confiança dos investidores internacionais e voltou a atrair dólares para o Brasil. O problema é que, a cada crise internacional (Tigres Asiátcos – 1996, Rússia – 1998 e Argentina – 2001), os dólares fugiam.
Em 1999, a equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso decidiu desvalorizar o real, visando incentivar as exportações, melhor maneira de atrair dólares em caráter definitivo. Essa medida mostrou-se inteligentemente acertada, pois, após dois anos, a Argentina teimosa, por insistir no modelo do câmbio fixo (um dólar era igual a um peso argentino), naufragou. Pois é... ouço vozes do passado me dizendo que a Argentina naufragou porque o peso argentino ficou pesado demais.
No final de 2002, o Brasil estava à deriva. O comandante não estava no barco, pois o comandante era o FMI. Insistíamos no comércio com um MERCOSUL falido, onde, por ser o mais forte, sempre saíamos perdendo (por mais paradoxal que isso seja. Afinal, no mundo real, a regra é que o mais forte sempre vença. E o pior é que isso aconteceu, de fato, no mundo real). MERCOSUL esse que evoluiria na direção da ALCA, onde os países da América Latina não passariam de um grande depósito de lixo dos Estados Unidos.
Tornara-se rotina obedecer ao FMI e pagar as parcelas em dia. Não que isso estivesse errado. Quem tem dívida, deve pagar. Mas ninguém pode viver só para pagar dívidas. O modelo neoliberal, que vinha sendo usado até então, não servia mais. Precisávamos de outra coisa. Qualquer outra coisa, fosse o que fosse.
Lula era essa qualquer outra coisa. Era a nossa tábua de salvação. O nosso Messias. Barbudo e tudo. Mais maduro, porém, prometera não cometer loucuras econômicas. Mas quem acreditou? Lá se foram os dólares novamente. Dessa vez, por pouco tempo. Uma linda atitude dos dois governos serviu para acalmar os ânimos: formou-se uma equipe de transição, composta por membros do governo Fernando Henrique e membros do futuro governo Lula. Agora só faltava uma coisa e Lula não demorou a fazer: anunciou que Antonio Palocci seria o Ministro da Fazenda e este garantiu que a política econômica do governo anterior seria mantida.
Além dos investimentos estrangeiros terem voltado com força, as exportações brasileiras iam de vento em popa, pois a economia mundial vivia tempos áureos. Sim, Lula teve sorte por “coincidir” estar no governo durante o período da expansão da economia no mundo inteiro. Mas lembremos que “sorte é o encontro da oportunidade com a capacidade” e que ela sempre procura aqueles que têm objetivos claramente definidos.
O governo Lula fez mais economia do que o necessário para pagar juros (superávit primário) e pagou mais do que os juros da dívida. Pagou o principal!
Talvez a maioria não se lembre como era ruim ser escravo do FMI. É como ser sustentado pelos pais. Ou pelo cônjuge. Ou pelos filhos. Não se tem vida própria, pois quem detém o domínio econômico, detém também o domínio político. “Enquanto você morar na minha casa, submeter-se-á às minhas regras”. Porém, uma vez livres do FMI, podíamos finalmente mandar na nossa própria casa.
Esse foi o maior feito do governo Lula! Apesar de todos os posteriores terem sido relvantes, só foram possíveis graças a este.
20 milhões de brasileiros deixaram a linha da pobreza, 31 milhões entraram para a classe C, a renda média das famílias aumentou e as reservas monetárias do Banco Central cresceram exponencialmente, o que livrou a nossa cara na maior crise do século, visto que tínhamos gordura (dólares) para queimar.
O Bolsa-Família, programa do Projeto Fome Zero, o programa mais polêmico do governo Lula, também ajudou o Brasil a continuar em pé durante a crise. Enquanto o resto do mundo agoniza, nós continuamos caminhando.
Dizem que não se deve dar dinheiro às pessoas, que o Bolsa-Família é esmola e que o certo é dar emprego. Mas as pessoas não entendem que emprego não se dá. Emprego se gera. Ninguém pode obrigar o empresário a contratar determinado trabalhador só porque a família dele está passando fome.
Geração de emprego é RESULTADO de uma economia forte e equilibrada, onde a população consome, a demanda aumenta e o empresário, para atender à demanda, gera empregos.
Sob esse ponto de vista, o Bolsa-Família gera empregos, pois, graças a ele, pessoas que antes não podiam consumir, agora podem.
Tudo isso feito, Lula ainda não estava feliz. O Brasil crescia pouco, como nos tempos de Fernando Henrique Cardoso. Era preciso começar o “espetáculo do crescimento”.
Reeleito em 2006, Lula tirou Antonio Palocci e colocou Guido Mantega no Ministério da Fazenda, com a missão de fazer o Brasil creser muito mais.
O ano de 2007 entrou para a história como o “ano da Bolsa”. Nunca tantas empresas foram tão bem sucedidas em suas aberturas de capital. Nunca o investidor, tanto grande quanto pequeno, ganhou tanto dinheiro. O IBOVESPA (índice composto pela rentabilidade das principais ações da Bolsa brasileira) bateu recordes atrás de recordes. Um ano depois, Michael Phelps faria a mesma coisa nas piscinas de Pequim. A BOVESPA passou a atrair mais e mais pessoas físicas. O Brasil estava pronto para ganhar o investment grade (grau de investimento). Isso significa que o Brasil subiria um degrau na escala de classificação de riscos dos maiores bancos do mundo. Na prática, significava que o Brasil estava cada vez mais confiável e que, se você, investidor estrangeiro, colocar o seu dinheiro aqui, não o perderá. Para nós, brasileiros, significou mais dólares, pois fundos de pensão internacional que, até então, não puderam investir aqui devido a sua política de riscos, agora podiam.
Mas, para ganhar esse investment grade, tivemos que passar por uma prova de fogo. Aquela que separa homens de meninos.
Veio a crise do subprime nos Estados Unidos e até o Lehman Brothers (um dos maiores bancos estadunidenses) quebrou.
Durante seis anos, justificaram-se os números auspiciosos do governo Lula dizendo que o mundo todo estava bem. Não se perdia a chance de dizer que, apesar disso, o Brasil crescia pouco, comparado a seus pares. Mas veio a maior crise do século XXI e, graças à atuação primorosa do governo (essa devemos a ele, temos que reconhecer), fomos um dos primeiros, senão o primeiro país a sair da crise e voltar a crescer. Foi então que os críticos calaram-se.
No meio do maremoto, Lula – visionário para uns, bêbado para outros – disse:
- Esse tsunami que estão falando que está acontecendo por aí, vai chegar aqui no Brasil uma marolinha.
Pode não ter chegado como uma simples “marolinha”, mas um “tsunami” também não foi.
Lula sabe que toda crise no capitalismo é basicamente uma crise de confiança. O que seu governo fez? Foi na contramão. Confiou na população.
Reduziu-se o IPI dos carros e dos produtos de linha branca, visando incentivar o consumo. A estratégia deu certo. Mas não foi só isso. Lula exigiu que os bancos diminuíssem o spread (a diferença entre os juros cobrados de quem toma dinheiro no banco e os pagos a quem investe). Para isso, utilizou os bancos públicos e essa é a vantagem de se possuir um ou dois bancos públicos. Imaginou que, se os públicos diminuíssem o spread, devido à concorrência, os privados também diminuiriam. E foi isso mesmo o que aconteceu. Porém, não sem a intervenção do Presidente da República.
Primeiro, ele pediu educadamente ao presidente do Banco do Brasil, Lima Neto, que diminuísse os juros. Lima Neto disse que faria um estudo e levaria ao presidente Lula. Porém, Lula achou que aquele estudo estava demorando demais e ele não tinha tempo a perder. Substituiu Lima Neto por Aldemir Bendine e mostrou que não estava brincando. Bendine o atendeu prontamente e, por causa da redução dos juros, os bancos tiveram que expandir fortemente o crédito, o que fomentou o consumo e aqueceu a economia doméstica. Hoje, o Brasil ainda é o campeão mundial dos juros. Porém, estamos com a menor taxa da nossa história!
Antes da crise, o governo Lula democratizou o crédito, criando o microcrédito para a população de baixa renda com taxas mais acessíveis para quem ganha até um salário mínimo. Desenvolveu o mesmo tipo de crédito nas mesmas condições para as microempresas e implantou o crédito consignado em folha de pagamento, modalidade com os menores juros do mercado, visto que o risco também é ínfimo.
Para quem brandia a bandeira socialista, Lula promoveu uma revolução capitalista!
Lula e seus crustáceos fizeram muito bem ao Brasil, mas isso não os credencia a indicar Dilma Roussef como sua sucessora. Ela é um crustáceo e nunca será mais do que isso. Lula é molusco e também nunca será mais do que isso. Eles são de espécies diferentes e é isso que quero dizer quando digo que “Lula é Lula e Dilma é Dilma”.
Ser de espécies diferentes significa que Dilma Roussef não sabe o que é passar fome, como Lula. Mas Marina sabe. Significa que Dilma Roussef não é de origem humilde, como Lula. Mas Marina é. Aliás, Marina é de origem até mais humilde do que Lula, visto que ela vem de um lugar esquecido pelo resto do Brasil, enquanto Lula veio do principal estado nordestino. Dilma nasceu na metade de baixo do Brasil. Marina e Lula, na de cima. Se formos retornar à metáfora dos frutos do mar, Marina, sim, é da mesma espécie de Lula e significaria a continuidade dos avanços que o governo Lula nos trouxe.
Dilma representa, no máximo, a continuidade dos altos gastos do governo. Para custeá-los, sabem quem vai voltar? A CPMF. De cara nova, após uma plástica, perdeu uma letra e mudou de nome. Agora ela é a CSS (Contribuição Social para a Saúde). Igualzinha a Dilma, que também fez plástica e mudou de personalidade. A CPMF também voltará mais boazinha, mordendo mais fraco, só de brincadeirinha, com alíquota de 0,1% em vez de 0,38% como quando foi extinta. Mas assim como Dilma, que hoje sorri, mas amanhã ninguém sabe; a CSS também pode crescer e começar a morder para valer. Então seremos nós que choraremos.
Contra a CSS e para o Brasil continuar avançando nas áreas social e econômica, porém, com sustentabilidade, Marina Silva deveria ser a primeira presidenta do Brasil.
Marina Silva porque ela é mulher e somente as mulheres têm sensibilidade para perceber as necessidades e aflições das pessoas sem que precisemos falar nada. As mulheres sabem só de olhar.
Marina Silva porque ela foi analfabeta até os 16 anos de idade, estudou e tornou-se nacionalmente conhecida. Para uma mulher saída do Acre, é uma vitória e tanto!
Marina Silva porque ela é professora e sabe das dificuldades de se dar aula nesse país. Exatamente por isso acredito que ela lutará para aumentar os investimentos em educação. E já que falamos tanto em economia, é muito importante que Educação Financeira seja ensinada nas escolas. Afinal, um país que cresce como o nosso e onde a população fica mais rica, precisa de educação financeira para saber como e onde investir o dinheiro.
Marina Silva porque ela é a candidata mais equilibrada dos três principais. Ela reconhece as virtudes e os defeitos, tanto do governo Lula quanto do governo FHC e isso dá moral a ela para conversar, tanto com PSDB e seus aliados, quanto com PT e seus aliados, podendo formar uma enorme base.
Marina Silva, por fim, porque ela é poetisa e escreveu essa poesia que resume todas as qualidades que enumerei (sensível, equilibrada, sensata):

Pequeno Dado

Eis um pequeno Dado
Jogado por sobre a mesa:
Ali nada era certeza
Tudo era interrogar.

Mas, para minha surpresa,
Na forma de um colosso,
o pequeno Dado jogado,
Era de carne e osso
E sabia até cantar.

Pulava, gingava e sorria,
Cheio de alegria
No milagre do olhar,
No cuidado e na labuta

De René, Nega e Ângela,
Mulheres que nos constrangem
A também lhe enxergar.
A também a dar-lhe a voz.
Voz que em cada um de nós,
Visitantes, jornalistas,
Fotógrafos a perder de vista,
Se embargava no chorar.

Vendo aquele Dado exposto
Num lugar de dar desgosto
Que nem dá para explicar

Como é que aquele Dado
Lá no Coque tão jogado
Podia ser tão garboso,
Podia ser tão charmoso.

Hip-hop, capoeira, cantor,
Constitucionalista,
Denunciador de injustiça,
Com quatro anos de idade?

Dado, meu pequeno Dado
Que Dilma, Serra, Plínio ou Marina
Ajude a mudar a sina
De tantos Dados jogados.

2 comentários:

  1. Legal o levantamento de informações! Tome apenas cuidado com esta propaganda política escrachada da Marina Silva. Se eu não me engano, blogs não oficiais e formadores de opinião são proibidos de defenderem qualquer político. De qualquer forma, parabéns pelo levantamento. Com certeza vai ajudar muito estudante no critério pesquisa.
    Abraços
    Adriano Ortolani

    ResponderExcluir
  2. Estava gostando muito do texto até vc começar a falar mal de Dilma, sendo que ela tbm fez parte desse progresso durante os mandatos de Lula, e lembrar que qdo FHC era presidente, ele falava para todos os cantos que o Brasil nunca conseguiria acabar com a divída com o FMI, nem diminuir os juros e nem extinguir o CPMF....LULA conseguiu! E ainda aumentou a influência brasileira no exterior... Reduziu IPI ajudando, principalmente, a classe menos favorecida. E quantos jovens não fizeram ou fazem uma faculdade graças ao PROUNI... Aiai, se for falar o tanto de coisa que LULA fez e que Dilma vai continuar fazendo vou ficar aki a tarde toda... Bjs

    ResponderExcluir